Ecos de uma geração

Aline Silva De Oliveira
sinestesiamusical
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3 min readNov 23, 2018

O legado de uma banda “quase famosa” e sua história

Foto: Divulgação

Na década de 80, quando o rock e o punk ditavam o ritmo das rádios brasileiras, o sonho de muitos jovens era ser um rockstar. Com o espírito rebelde tal qual o de Cazuza, ideias revolucionárias como as do Paulo Ricardo, uma mente à frente do seu tempo como a de Renato Russo, fazer rock era muito mais do que tocar uma guitarra, se tratava de ser parte da história, ser uma revolução.

Pioneiros desse universo musical na região, surge em Cascavel, no ano de 1987 a banda Ecos da Tribo. Com a intenção de fazer ecoar seus pensamentos e sendo desbravadores da história da música regional, com cinco integrantes, foram o mais próximo do estrelato que uma banda cascavalense conseguiu alcançar; tornando-se referência e se consagrando no cenário brasileiro.

Ricardo Bulgarelli, Afonso Whitaker Neto, Sérgio Ribeiro, Jean Paterno e Luciano Veronese: a formação marcante da Ecos. Uma banda que, nas palavras dos próprios integrantes, é “quase famosa”. Isso porque, como o próprio Veronese explicaria: “Nós estávamos no lugar certo, com as pessoas certas, na hora errada”.

Sem se preocupar com a máxima “Sexo, Droga e Rock’n’Roll”, de acordo com Afonso, a única droga que o grupo compartilhava era a própria paixão pela música. Assim, com uma até então carreira de sucesso, ambição por crescimento, desejo de se arriscar e apesar dos aproximadamente dez anos de delay, a banda se mudou em fevereiro de 1993 para São Paulo. “Não havia outro jeito, era fazer as malas ou deixar o sonho morrer”, conclui Ricardo.

Por meio disso, na maior cidade do país, a banda viveu suas maiores histórias e provou sua determinação e resistência. Mesmo sofrendo na pele o jogo de interesses mercadológicos do meio, a Ecos da Tribo atingiu um patamar muito além do almejado pela maioria das bandas amadoras. Naquela época, segundo Luciano, eles eram muito mais do que uma banda de rock, eram uma família.

Não à toa, a música Lilith — maior sucesso musical da Ecos — venceu outras 105 bandas brasileiras em um concurso de uma rádio FM no Rio de Janeiro e oportunizou sua maior experiência. Como prêmio, os cincos cascavelenses abriram os shows de duas das suas maiores referências na Cidade Maravilhosa. No renomado palco do Circo voador, tocaram junto ao Barão Vermelho e, se já não fosse suficiente para uma banda do interior do interior, ainda na praia do Arpoador, abriram um show para o RPM. “Foi uma loucura. A galera cantando junto…Parecia coisa de outro mundo, um sonho”, lembra Ricardo.

Depois dos dias de glória, vieram muitos dias de luta. Oportunidades com gravadoras, contratos que acabavam antes de começar e a difícil linha tênue entre dar certo e não dar. Sete meses depois, voltaram para Cascavel desanimados, mas com uma bagagem repleta de amadurecimento, experiência e grandes histórias. Após a chegada, ficaram meses sem se falar, a banda quase famosa quase teve um fim, mas no meio de vários “quase” surge um sopro de certeza: Luciano Veronese montou seu primeiro estúdio.

Com a novidade, a Ecos da Tribo gravou o primeiro CD com tecnologia digital da região, sendo mais um marco pra história. Os anos passaram, as dificuldades aumentaram, e a vida de rockstar estava cada vez mais dividida com a vida pessoal dos integrantes. Dessa forma, em 2005, a banda lançou seu quinto e último disco: Idade da Mídia.

“O Ecos, mais do que uma banda experiente, deve ser vista pela nova geração de grupos de rock da cidade e da região Oeste do Paraná como uma influência e, mais do que isso, como um exemplo de resistência e determinação”, afirma Ricardo. Uma banda que emergiu do nada, teve seus dias de fama e provou que, apesar de todas as limitações, é possível entrar para a história.

Fonte: Livro “Histórias de Bandas de Rock” de Jean C. Paterno

Texto: Maria Luiza Hurmann

A música Lilith — maior sucesso musical da Ecos — venceu outras 105 bandas brasileiras em um concurso de uma rádio FM no Rio de Janeiro e oportunizou sua maior experiência

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