Ações antidemocráticas nas rodovias e parcialidade da Jovem Pan

Meio de comunicação justifica atos antidemocráticos e se solidariza com manifestantes que defendem intervenção militar

Anapaulavitoria
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4 min readNov 28, 2022

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Por Alessandra Oliveira, Ana Paula Vitoria, Maria Eduarda Paiva

Manifestantes protestam após derrota de Bolsonaro no segundo turno das eleições 2022 | Foto: Agência Brasil

Após o resultado das eleições presidenciais que aconteceram neste domingo, 30 de outubro, o resultado não agradou opositores ao partido vencedor, que se manifestaram em 23 estados brasileiros contra a vitória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Os eleitores do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) alegam que Lula apenas teria ganhado devido a uma fraude nas urnas, acarretando em indignação e descontentamento por parte dos bolsonaristas e, mais uma vez, em uma paralisação dos caminhoneiros nas principais rodovias do país com discursos golpistas, violentos e xenofóbicos, que foram manchetes em vários veículos de comunicação.

A Jovem Pan já é bastante conhecida por participar de algumas polêmicas, como a demissão dos jornalistas Guga Noblat, Caio Coppola e Guilherme Fiúza no último final de semana de eleições. Durante uma das programações da Jovem Pan News, o economista Rodrigo Constantino afirmou que os manifestantes criaram uma expectativa bem grande em relação a alguma “bala de prata” que Bolsonaro teria contra o sistema, como se os seus eleitores enxergassem o novo governo que tomará posse em 2023 como corrupto, e opina dizendo que eles estão com uma boa dose de razão.

“Entendo o sentimento de revolta daqueles que sentem como se essa eleição tivesse sido manipulada, seja pelo partidarismo ou pela censura do TSE, compreendo o desespero de muitos brasileiros vendo a situação do país degringolar para virar uma Argentina. Mas as coisas não podem ser solucionadas no grito, na marra”, afirma Constantino, tentando, de certa forma, justificar os atos antidemocráticos e ignorando o fato de que essas mesmas pessoas estão pedindo por intervenções militares e utilizando discursos violentos para defender seus ideais.

Diferente da manifestação que ocorreu em 2014, o objetivo dos caminhoneiros neste momento seria mostrar a insatisfação pelo presidente Luís Inácio da Silva, ou seja, eleitores inconformados com a derrota de Bolsonaro organizaram-se a fim de protestar e exigir uma nova eleição presidencial, caso não houvesse uma resposta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de defender uma intervenção militar. Os bloqueios geraram bastante preocupação aos brasileiros, pois voos e viagens de ônibus foram canceladas devido às paralisações, com o risco de desabastecimento e o envio de insumos para a área de saúde prejudicado.

Além disso, foram publicadas matérias sensacionalistas do portal on-line da JP, como a “Militantes vão às ruas em manifestações pacíficas pelo Brasil”, sendo que de pacificas não tiveram nada. Durante protestos realizados na cidade de São Paulo no último domingo, 31 de outubro, manifestantes pró-Bolsonaro exibiram símbolos usados por neonazistas ao cantar o hino nacional. O gesto, repudiado pelo embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, é inadmissível e uma atitude criminosa. Porém, de acordo com a Jovem Pan, os protestos ao redor do país foram pacíficos. Pacíficos para quem? A partir do momento em que um veículo ou emissora de televisão conduz sua programação para expor notícias enganosas ou direcionadas a um partido político, é de extrema importância analisar as suas condutas éticas. Como foi o caso da comentarista Ana Paula Henkel, que pronunciou na rádio Jovem Pan que petistas possuem a proteção do TSE contra as verdades que são ditas, sem ao menos apresentar provas de que isso realmente acontece, justificando e afirmando que o governo do PT pertence à uma facção.

Inconformado com a derrota, Jair Bolsonaro omitiu sua opinião sobre as manifestações, e ao fato de não condenar ou repreender os protestos pode ser considerado como um incentivo ao bloqueio das estradas. Diversos caminhoneiros que estão presentes nas manifestações afirmam que a manifestação só acabaria caso o presidente se pronunciasse. “Se ele se manifestar e falar que não deu, chega, cada um vai para sua casa, vamos aceitar”, afirma um manifestante de um bloqueio na BR-317, em Rondônia.

Semelhante ao que aconteceu nas eleições norte-americanas de 2020, na qual o ex-presidente dos Estados Unidos não reconheceu a vitória do atual governante Joe Biden, afirmando que as eleições estavam longe de acabar e exigindo a recontagem de votos, Bolsonaro não comentou sobre a vitória de Lula, considerado um procedimento básico em países democráticos. Devido a falta de responsabilidade com a sociedade brasileira e aceitação e do ex-presidente, após apenas agradecer os 58 milhões de votos que obteve, coube ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmar que o processo de transição de governos será iniciado.

Manifestações e insatisfações são comuns, desde que não comprometam a liberdade do outro. A partir do momento em que ações com sentimentos de injustiças são realizadas, em ocorre a destruição de um patrimônio e o direito de ir e vir é totalmente afetado, os meios de comunicação devem sempre ter um compromisso com a ética e com a democracia, evidenciando quando ações afetam os direitos básicos de uma sociedade. A Jovem Pan, meio jornalístico citado neste artigo, é um grande exemplo de parcialidade (partidarismo) e falta de comprometimento com a verdade. Foi vivenciado um ato totalmente antidemocrático entre caminhoneiros insatisfeitos com o resultado das urnas, porém, não denunciado o suficiente pelo programa, mas sim justificado por economistas.

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