A cada real investido em uma criança moradora de rua, seis reais voltam à sociedade

Gabriel Santos
singular&plural
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3 min readMay 25, 2018

O que está por trás das coberturas jornalísticas de problemas sociais

Por Bianca Ninzoli e Gabriel Santos

Conhecida como “Casa do Zezinho” a organização não-governamental mantém 1.200 jovens com até 17 anos fora das ruas e longe do tráfico de drogas. Localizada no bairro Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, o estabelecimento funciona há 24 anos sob os cuidados da “Tia Dag”, a pedagoga Dagmar Rivieri.

O Lide acima já estampou jornais, redes de TV e sites por todo o país, não raro a Tia Dag está na mídia novamente, com a mesma abordagem, as mesmas manchetes e o mesmo viés de matéria humanizada para quebrar a violência do hardnews. É bom para os meios de comunicação veicular notícias de cunho social positivo. Faz bem “informar” o leitor ou espectador que o país não está ruindo e que a Dagmar é uma salvadora, “olha que legal essa iniciativa”, eles dizem segundos antes de caírem no esquecimento de tudo o que foi “informado”.

Projetos como a Casa do Zezinho devem ser exaltados a cada minuto, merecem todas as manchetes, mas a grande deficiência disso não está nos precursores das iniciativas e sim na maneira que a mídia reproduz o conteúdo. Seria interessante dar esse tipo de notícia mostrando as raízes do problema e o que as pessoas podem fazer para ajudar e não colocar a Dagmar em um pedestal salvador, como se ela não precisasse de incentivos financeiros e medidas governamentais.

A grande questão é que quantidade de reportagens não faltam, mas no olhar qualitativo e de interesse público elas têm a mínima relevância. Parece que cada vez mais a produção de matérias como a da Tia Dag, é só para transmitir ao público a sensação de que os grandes veículos de comunicação estão realmente preocupados com situações como essas. Mas afinal, qual o papel do jornalismo se não ser um prestador de serviços à comunidade? Histórias como a da ONG do Capão Redondo, comovem o público, mas parece que o interesse está em apenas contar a trajetória da pedagoga e não do problema social existente, e menos ainda em maneiras de como resolver a situação, visto que é algo que acontece em todos os cantos do país.

Talvez de fato a cobertura da caminhada de uma youtuber famosa na orla de Copacabana traga mais audiência, rentabilidade e lucratividade para o veículo de comunicação. É lamentável, mas muitas vezes é o que o público coloca como prioridade ao buscar matérias para se manter informado. Entretanto, até que ponto o jornalismo deve compactuar com isso, e esquecer de pessoas como a Tia Dag minutos depois da produção da reportagem? Precisamos repensar qual o papel do jornalismo na atualidade e enquanto profissionais da comunicação, como podemos amenizar e ajudar nos problemas da sociedade.

Referências

AGÊNCIA ESTADO. Crise leva Casa do Zezinho a reduzir atendimento. Disponível em: <https://noticias.r7.com/sao-paulo/crise-leva-casa-do-zezinho-a-reduzir-atendimento-15042017>. Acesso em: 21 maio 2018.

G1. A casa onde todo mundo vira Zezinho. Disponível em: <http://g1.globo.com/como-sera/noticia/2016/04/casa-onde-todo-mundo-vira-zezinho.html>. Acesso em: 21 maio 2018.

TRINDADE, Eliane. ‘Quanto vale tirar crianças do tráfico?’, diz fundadora da Casa do Zezinho. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/redesocial/2018/05/quanto-vale-tirar-criancas-do-trafico-diz-fundadora-da-casa-do-zezinho.shtml>. Acesso em: 21 maio 2018.

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