A cobertura do portal UOL na absolvição de André Camargo Aranha

Mariana Ferrer foi estuprada por André no beach club Café de la Musique, em Florianópolis

Talita Alves
singular&plural
3 min readOct 13, 2020

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Por Amanda Ayumi, Denise Sousa e Talita Alves

André Camargo Aranha, acusado de estuprar a influencer Mariana Ferrer em 2018, foi absolvido. Mesmo depois dos exames comprovarem que o sémen de André estava nas roupas íntimas da vítima e que seu hímen havia se rompido, o juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, declarou improcedentes as denúncias por falta de provas.

Reprodução de perfil no Facebook

Desde o momento em que Mariana expôs o estupro até a absolvição de André, os maiores portais de notícias do Brasil noticiaram o fato. De acordo com Heloiza Golbspan Herscovitz, a análise de conteúdo se mostra importante para a detectação de um conteúdo jornalístico — qualitativa a partir de textos, símbolos, imagens e quantitativa por meio da contagem do conteúdo manifesto, a fim de fazer inferência sobre o assunto e enquadrá-lo em categorias. Assim, evidenciar a quantidade de vezes que o caso Mariana Ferrer foi noticiado se mostra essencial. Os seguintes resultados foram encontrados: Globo (5); Estadão (1); Folha (1); SBT (3); Veja (2) e UOL (7).

No portal UOL, apesar de ter noticiado o estupro sofrido por Mariana Ferrer por mais vezes, foi constatado a partir da análise de conteúdo qualitativa que o nome de André não aparece no título das sete reportagens. Além disso, o veículo retratou André apenas como empresário.

Na matéria intitulada “Caso Mariana Ferrer: o que acontece após uma denúncia de estupro?”, André é citado apenas duas vezes durante o texto e não há a contextualização do caso. A matéria não se preocupa em evidenciar os detalhes do caso, assim como quem é André Aranha e o porquê dele ter sido absolvido — considerando sua posição social e econômica.

Enquanto isso, na matéria “Mesmo com provas, homem que estuprou Mariana Ferrer é absolvido”, na primeira vez em que aparece no texto André Aranha foi citado indiretamente e não teve o nome evidenciado como o suposto agressor de Mariana, mas apenas como um “empresário acusado de estuprar” a jovem. Ademais, seu nome foi citado diretamente em apenas três momentos, sendo que a primeira vez onde aparece seu nome foi quando relataram que a Polícia Civil havia indiciado André por estupro de vulnerável.

No caso, a citação direta do nome de André ocorreu apenas no quarto parágrafo, sendo destacado como um item não tão importante para a construção da matéria, visto o uso do lead jornalístico. No geral, o texto traz informações bem resumidas e consegue criar um contexto do caso, incluindo provas apresentadas pela vítima, imagens da câmera de segurança e a revolta dos internautas com a decisão do magistrado.

Reprodução de perfil no Instagram

No entanto, na matéria realizada com Luciane Aparecida (mãe de Mariana), “Mãe sobre filha estuprada em beach club de SC: 'Tem sequelas irreversíveis'”, o portal fez uma edição bastante eficiente. Além de contar o caso pelo ponto de vista da mãe de Mariana, também faz uma retomada pelo caso, passando por pontos importantes como: o histórico do caso, o réu e próximos passos. Nesses três pontos é possível ter uma contextualização completa sobre a situação.

André Aranha é citado quatorze vezes durante o texto, ou seja, ao contrário de alguns veículos que focaram apenas na vítima, o Universa (um dos canais do UOL) deu destaque para o principal deste caso, o suspeito de estupro. Entretanto, é importante reiterar que o nome do empresário aparece nessa notícia diversas vezes, pois a matéria é contada a partir do ponto de vista da mãe da Mariana.

A partir da análise de conteúdo (qualitativa e quantitativa), pode-se observar que o portal UOL teve como foco o relato do estupro sofrido por Mariana Ferrer e não a denúncia do caso. Assim, o portal seguiu diversos valores do jornalismo, como a verdade e a relevância, mas não se atentou em expor quem deveria, no caso, André Aranha, o agressor.

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