A Copa começou. Vamos fazer diferente?

julia fagundes
singular&plural
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3 min readJun 20, 2018

Aproveitando um evento importante para te lembrar que…

Por Júlia Fagundes

Começou a copa. Como esperávamos, (quase) todo o Brasil parou para assistir ao primeiro jogo da seleção brasileira masculina no último domingo, dia 17. O mesmo vai acontecer na próxima sexta-feira, quando o Brasil enfrentar a Costa Rica em busca de pontos. Pontuação esta que nos faz suar, ficar nervosos e gritar. Até porque, o quão horrível seria deixar o mundial nesta primeira fase?

Que a Copa do Mundo de Futebol Masculino é respeitada pelo mundo inteiro, sobretudo aos empresários por seu grande potencial de lucro, (quase) todo mundo já sabe. Vamos falar um pouco de um evento parecido com este, mas que recebe bem menos atenção: a Copa do Mundo de Futebol Feminino. Em um artigo intitulado como “Mulher, Mídia e Esportes: A Copa do Mundo de Futebol Feminino sob a ótica dos portais de notícias pernambucanos”, foram analisadas 69 matérias que falavam sobre o mundial feminino. Destes, o portal que mais abordou o evento foi o “Globoesporte.com”, por ser uma mídia nacional. A autora do artigo criou quatro categorias para organizar as matérias encontradas.

São elas: notícia padrão: fala dos jogos de forma breve e sem muito destaque, geralmente, sem apresentar entrevistados e apenas trazer um resumo do jogo e dos lances importantes; notícia “Marta e Cia”: coloca Marta como personagem principal da matéria, em notícias exclusivas ou sua opinião sobre jogo ou sobre a própria seleção; notícia destaque positivo: expõe o bom desempenho das jogadoras ou dão destaque ao bom futebol. Nessa categoria há uma presença maior da voz das jogadoras nas matérias, elas são as personagens entrevistadas; desvalorização do gênero feminino: reportagens que comparam a seleção feminina com a masculina e falam de erros ou abordam o tema do futebol de maneira inadequada.

Em suas considerações finais, a autora ressalta como foi difícil encontrar matérias que informassem o público do evento, e o quão perceptível foi a negligência para com o esporte feminino quando categorizaram as notícias.

Hoje, segundo o teórico Stuart Hall, as instituições e relações comunicativas constroem e definem o social. Ou seja, elas possuem a capacidade de negligenciar ou evidenciar um apelo político, acima de tudo.

No Brasil, menos de 10 pessoas são donas dos grandes grupos de comunicação, capazes de atingir diferentes classes sociais. Desta maneira, tais conglomerados de mídia são responsáveis por delinear o conteúdo a ser transmitido de uma forma geral. Eles competem entre si pra ver quem apresenta a melhor resolução de imagem, de som, novidades nas transmissões, mas o conteúdo não varia.

Nesta Copa do Mundo de Futebol Masculino, a emissora Globo foi a única brasileira a comprar os direitos de imagem para transmitir os jogos, e por isso, outros grupos concorrentes buscam outros meios de fomentar o evento. Se não, perdem a oportunidade de lucrar em cima de um evento que vende por si só.

Pois é, não podemos descaracterizar a importância sociocultural de uma Copa do Mundo (menos a do futebol feminino). Segundo o jornalista César Ricardo Siqueira Bolaño, a comunicação que se realiza no processo produtivo de tipo capitalista é uma comunicação hierarquizada, burocratizada, compatível com a estrutura de poder na fábrica. Significando que é o espelho das relações de poder na sociedade, onde o espaço da mulher era o privado e o do homem o público.

Hoje, as feministas analisam estas duas palavras, visto que elas contextualizam o grande problema da desigualdade de gênero. A filósofa Susan Okin destaca que o termo privado diz respeito à distinção entre vida doméstica e não doméstica.

Enquanto a visão do público e doméstico (público e privado) perdurar, a sociedade andará a partir de uma visão masculina e patriarcal. E a invisibilidade das mulheres em campos tidos como masculinos, como o futebol, vai se perpetuar.

Neste novo modelo de comunicação em massa, conhecido hoje como mídia, da qual todos fazemos parte, é necessário conhecer a função de cada veículo no nosso aprendizado. Devemos analisar a linguagem e detectar a assimetria existente entre o emissor e nós, receptores. Só assim conseguiremos escapar desta barreira comunicacional e criar, talvez, conteúdos mais diversificados e completos.

Tudo isso começa, segundo o professor e sociólogo Venício Artur de Lima, na sala de aula.

Conteúdos analisados

https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/viewFile/4635/pdf

LIMA, Venício A. de. Breve roteiro introdutório ao campo de estudo da Comunicação Social no Brasil. In: LIMA, Venício A. de. Mídia: Teoria e Política. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. p. 21–53.

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