A desconstrução da fórmula Marvel
Quebrando tabus, o filme 'Eternos' traz mudança para o mundo dos super-heróis
Por Guilherme Porrino e Julia Siqueira
Quando falamos em cinema e super-heróis é difícil não surgir na mente alguma referência às histórias contadas nos últimos anos pela Marvel. O estúdio é uma das maiores referências da temática, e isso se confirma com os números de suas bilheterias, como por exemplo a do filme Vingadores: Guerra Infinita que levou US$ 1,82 bilhão no total de vendas, se tornando a segunda maior da franquia MCU (Universo Cinematográfico Marvel). Não à toa que, após 26 lançamentos nos cinemas, a Marvel movimentou mais de US$ 8 bilhões de acordo com a revista Forbes. Mas, então, o que se pode esperar das novidades e inovações dos roteiros para conquistar mais triunfos?
O filme Eternos, lançado em 4 de novembro de 2021, é a mais nova história de super-heróis da titã da indústria, Disney. Nele acompanhamos a jornada de seres cósmicos que defendem a Terra contra monstros alienígenas. A diretora do longa, Chloé Zhao, fez questão de escalar atrizes e atores que representam o mundo diverso do qual vivemos. No elenco há homens, mulheres, pessoas negras, brancas, asiáticas, integrantes da comunidade LGBTQIA + e pessoas portadoras de PCD.
A proposta de inclusão já havia começado no universo MCU, com filmes como Capitã Marvel (2019) e Pantera Negra (2018), onde seus protagonistas são uma mulher e um homem negro, respectivamente. Porém, somente com a chegada de Eternos (2021) que o conceito de diversidade foi amplamente atendido.
É o que o jornalista André Zuliani do Portal UOL afirma em sua matéria “Com Eternos, Marvel quebra tabus e prova que diversidade é um caminho sem volta”, publicado no dia 8 de novembro. O repórter não poupa críticas às antigas produções da produtora: “Durante a jornada, o estúdio patinou e demorou para encontrar espaço para diversidade, mas a estreia de Eternos (2021) quebra tabus e mostra que este é um caminho sem volta”. Com termos como “patinou”, “demorou” e, junto de outras palavras, ele deixa clara a posição do veículo.
Apesar de evidenciar suas opiniões ao longo da matéria, André também expõe os principais valores jornalísticos esperados. De maneira objetiva e clara, o autor aponta que o problema da falta de representatividade não é exclusivo do estúdio: “Há décadas, Hollywood sofre com críticas pela ausência de narrativas que explorem o mundo como ele: plural”.
Ele também se utiliza do factual e da novidade para mostrar algumas pequenas, mas importantes, mudanças no cenário dos filmes: “Nos últimos anos, o debate acerca de tornar a indústria como um todo mais inclusiva cresceu e se fortaleceu. Atores, diretores e profissionais não-brancos passaram a estampar as capas de revistas e protagonizar filmes e séries com forte apelo popular”.
Com a pandemia de covid-19, o ato de ir aos cinemas sofreu diversas mudanças, mas essas não podem ser as únicas dentro desse universo. A indústria cinematográfica deve se atentar mais ao interesse do público, que também tem alterado sua visão, e que clama por uma representatividade do “real”. Assim, o veículo deixa claro o processo de desconstrução de uma “fórmula Marvel”, que tem de tudo para trazer uma realidade relevante para as histórias dos super-heróis necessitadas de evolução. Como finalizado por André: “O que merece ser destacado aqui, no entanto, é o avanço de um universo que, durante muito tempo, foi rotulado (com razão) por ser machista, racista e homofóbico”.
Mesmo se apoiando nos fatos, Zuliani prova como o jornalismo precisa também se apoiar em pautas como o ativismo para atender as demandas de representar a realidade com palavras. A voz que se faz presente no texto é a do profissional, que assume total responsabilidade pelo discurso transmitido. Sua crítica para o UOL foi capaz de mostrar a reconstrução e transformação que o jornalismo precisa ter, além do ato de se posicionar e deixar claro para o leitor seu ponto, para que assim esse possa ler e criar seu entendimento da realidade.