A imprensa e o caso Breonna Taylor

Como os veículos da imprensa decidiram abordar o caso da jovem assassinada por policiais em sua casa

Camilla Jarouche
singular&plural
3 min readOct 13, 2020

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Crédito: Pixabay

Por Camila Jarouche

No dia 13 de março de 2020, mais um crime envolvendo questões raciais cometido pela polícia americana chegou à mídia. Breonna Taylor, enfermeira negra de 26 anos, foi assassinada em seu apartamento, na cidade de Louisville (EUA), enquanto estava com seu namorado, Kenneth Walker.

Os policiais arrombaram sua porta, em busca de drogas, e ao escutar os barulhos Walker pensou ser criminosos invadindo o apartamento. Então, disparou contra os policiais que revidaram, o desarmando e acertando Breonna. Não encontraram nenhum indício de que havia substâncias ilícitas no local e a arma utilizada pelo rapaz estava regularizada.

A ação foi realizada por causa do ex-namorado de Taylor, que era traficante e procurado na época. Ele havia se ligado ao endereço dela na época em que estavam em um relacionamento. A jovem não tinha nenhuma ligação com seus crimes. Esse caso virou um dos mais icônicos nas manifestações “Black Lives Matter” e resultou na aprovação da “Lei Breonna”, em junho, que baniu invasões de casas em operações de buscas.

O caso voltou a ser destaque depois que a Prefeitura de Louisville decidiu pagar uma indenização à família de Breonna, no dia 15/9, no valor de 12 milhões de dólares, mas principalmente quando a justiça formalizou a acusação apenas de Brett Hankison, um dos três policiais envolvidos na morte da jovem, na quarta-feira 23. Gerou diversas manifestações ao redor dos EUA, pedindo justiça, para que todos os envolvidos fossem devidamente punidos.

No site do G1 são pelo menos sete matérias envolvendo o caso de Breonna, onde apenas a informação básica do dia é transmitida, e não nos é apresentada a versão da polícia ou dos agentes envolvidos, o que seria interessante para saber os dois lados da história, por mais errado que um deles estivesse.

Pegando como exemplo a matéria “Milhares protestam nos EUA após decisão no caso Breonna Taylor”, o título explica bem sobre o que podemos esperar sobre o texto, mas a linha fina é demasiada extensa, ocupando quatro linhas que poderiam ser resumidas em no máximo duas. O conteúdo é bem completo e resume bem o caso, além, é claro, das novas informações que saíram nos últimos dias. Há também citações de pessoas próximas a Taylor, como sua irmã, e do advogado da família, responsável pelo caso.

No restante das matérias analisadas senti que estavam mais “frias” e “corridas”, sem muito aprofundamento na história, sem muitos pontos de vista, e aparentemente com poucos entrevistados, não podendo haver diálogo dentro do texto ou pluralidade de ideias. Elas disponibilizam as informações, mas senti falta de uma discussão dos temas racismo e violência policial mais aprofundada.

Outros veículos que abordaram o caso, como UOL, BBC e CNN, fizeram uma boa abordagem, apontando as atualizações sobre o caso e apresentando um ótimo contexto, deixando o leitor bem informado sobre o que aconteceu, e quais foram as consequências depois do ocorrido. Além disso, disponibilizaram matérias anteriores relacionadas logo após o final do texto, deixando o leitor curioso para saber mais e ajudando no entendimento do caso.

The Washington Post foi, na minha opinião, o que mais demonstrou interesse no ocorrido. Já que as reportagens foram bem mais densas e explicativas, com maior número de fontes, como Stew Mathews, advogado de Hankison, e Tawaanna Gordon, prima de Taylor. O veículo conseguiu deixar o texto mais rico em detalhes e mais humanizado, por colocar mais pontos de vistas do que já tinha sido apresentado pela maioria dos outros veículos. Na matéria “Breonna Taylor updates: Calls mount for more information on grand jury’s decision-making”, o leitor pode acompanhar as atualizações e rever os acontecimentos anteriores relacionados, algo consideravelmente simples, mas que demonstra interesse do veículo no desenrolar do caso.

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