A influência da mídia no Caso Eloá

Isabella Lily
singular&plural
Published in
3 min readMar 27, 2018

Como e por que há indicios de que a mídia aumentou as chances do fim trágico de Eloá Cristina Pimentel

Por Isabella Lily e Laura Isern

Em 2008, o caso foi acompanhado de perto por todas as mídias televisivas e impressas do país, até além dele, uma vez que o jornal espanhol El País, se comoveu pelo acontecido. Para que esta cobertura tivesse tal -exagerado- acompanhamento, a mídia brasileira se dispôs em campana durante todo o caso e, inclusive, fazendo muito mais do que apenas informar a população. A maioria dos noticiários romantizava o crime, dizendo ser apenas um “crime passional”, “por amor” e, assim, enraizando ainda mais o fato de que a violência contra a mulher é um dos temas mais “esquecidos” da mídia brasileira.

Este ano faz exatamente 10 anos que Eloá Cristina Pimentel fora sequestrada. Lindemberg Alves, dia 13 de Outubro de 2008, ex namorado de Eloá, a manteve refém durante 100 horas em cárcere privado, dentro do apartamento da mesma em Santo André/ SP, pelo motivo de que a garota havia terminado com ele. Além dela, Nayara Silva e mais duas outras amigas estavam na casa. As duas colegas foram liberadas logo no início, mas Nayara ficou até o dia 15, fora liberada, mas voltou ao apartamento desobedecendo as ordens do GATE. No dia 16, os policiais da Tropa de Choque e do próprio GATE invadiram o apartamento, argumentando que ouviram tiros de dentro do local. A invasão fez com que os policiais e Lindemberg lutassem, dando tempo do mesmo atirar na direção da ex namorada e sua amiga. Os tiros atingiram Nayara no rosto e Eloá fora atingida na virilha e cabeça, saindo de lá sem consciência, após dois dias veio a notícia de que havia falecido por morte cerebral.

O erro da mídia se deu logo no início: em todos os casos, nunca se é televisionado durante o acontecimento; a notícia só se dá após a resolução do crime, para que não aconteça exatamente o principal fator desse erro de cobertura e sensacionalismo, o fato de que Lindemberg havia contato externo além do que é necessário, interferindo nas negociações e ações da polícia.

Além disso, a rede de televisão RedeTV! exibiu em cobertura nacional a entrevista feita com o sequestrador e a sequestrada, tornando o acontecimento mais perigoso do que já estava. Ao ser entrevistado por Sônia Abrão, apresentadora do programa exibido ao entardecer “A Tarde É Sua”, Lindemberg ficou visivelmente irritado, questionando-a sobre como arranjou o número e porquê estava ao vivo, dificultando ainda mais o contato dos negociadores da polícia com o criminoso, uma vez que o único telefone de contato para as negociações estava bloqueado pela mesma. Pior que isso, o repórter Luiz Guerra, tentou se passar por negociador, tentando fazê-lo se entregar, sem nenhum preparo ou conhecimento técnico sobre o feito. Além destes, a Globo, com a repórter Zelda Melo e um repórter da Folha Online, também entrevistaram o sequestrador, aumentando mais ainda sua interação e, de certa forma, seu ego.

Portanto, a atuação da mídia no desenrolar do caso fora, de certa forma, um agravante para o fim trágico da questão. Inclusive Rodrigo Pimentel, ex integrante do BOPE e sociólogo, declarou em mídias de que a ação da comunicação brasileira fora irresponsável e criminosa e acreditava que “o Ministério Público deveria responsabilizá-las [as emissoras de tv] por parte do ocorrido”.

Fontes

https://mediaetpotere.wordpress.com/2014/03/18/a-imprensa-e-o-caso-eloa/

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/quem-matou-eloa-a-midia-e-a-violencia-contra-a-mulher

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