A liberdade da independência

Beatriz Gois
singular&plural
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3 min readNov 22, 2018

Por Beatriz Gois e Yolanda Reis

Foto: Pixabay

A chegada da internet trouxe diversas mudanças ao mundo contemporâneo, e envolveu em todas as suas entranhas também o jornalismo. Quando este assunto entra em pauta, sempre é ressaltada a forma como as grandes mídias demoraram para pensar em um modelo que gerasse lucro no mundo digital, já que a princípio, os mesmos conteúdos impressos ou eletrônicos (rádio e TV) eram despejados nas plataformas digitais sem que se pensasse num conteúdo específico para aquele meio. Essa é apenas uma, das tantas sacadas do chamado jornalismo independente, que além de tornar a mídia mais democrática, inovou na forma do fazer jornalismo, pensando ainda nas possibilidades inovadoras que vinham junto com o novo meio.

O “jornalismo sem rabo preso” — também conhecido por jornalismo independente e jornalismo ninja — tem como principal objetivo fazer dos meios de comunicação lugares mais democráticos e diferenciados, fugindo do bê-a-bá da mídia comum e popular, inclusive da parte puramente comercial. Esse tipo de mídia conseguiu se fixar na era da Internet e a aproveitou melhor do que os grandes veículos.

Para melhor visualização, basta pensar em dois modelos de jornalismo independente bem fortes no Brasil. O Jornal Nexo ganhou espaço com textos que têm o claro objetivo de ensinar, educar ou instruir as pessoas sobre assuntos atuais. Nada de novo. Entretanto, agregou a seus conteúdos a possibilidade de interação do leitor. Esse, sem dúvidas, é o diferencial da mídia, que apesar de apostar no modelo de assinaturas, assim como outras grandes empresas de comunicação, faz do negócio uma comodidade de acesso a bons conteúdos.

Um outro modelo de jornalismo independente, aclamado, é o que se aproxima do conteúdo produzido pela Agência Mural. O objetivo dela é quebrar estereótipos das periferias da Grande São Paulo, alimentando seus leitores com conteúdos que realmente se aproximem da realidade desses lugares. Esse é o tipo mais comum, que apesar de não vir com muita inovação quando refere-se a modelo, é produzido e lido por minorias, que se sentem representadas. A chamada pluralidade da mídia.

Esses meios independentes, como empresas, ainda têm que levar em conta a lucratividade e a rentabilidade, mas esse não é o seu objetivo principal. Por isso, os canais de jornalismo sem rabo preso fogem da máxima da indústria cultural, onde a informação seria apenas a mercadoria a ser produzida para as vendas.

O Nexo não se utiliza da publicidade, por exemplo. Sua renda vem unicamente das assinaturas. E isso somente é possível devido à qualidade de seu conteúdo. Já a Agência Mural, apesar de ter um financiador principal, aposta também no financiamento coletivo, deixando disponível em seu site a opção para doações.

O motor do jornalismo ninja é a produção do conhecimento. E seu não envolvimento na máquina da indústria cultural permite que essa mídia seja mais extensa e focada nos assuntos que realmente interessam ao editor, jornalistas e colaboradores dos veículos. Isso porque o objetivo não é hegemonizar a cultura e a recepção de conteúdos para assim alcançar a grande massa; deseja-se ressaltar determinados aspectos de determinados grupos, e direcionar-se primeiramente a eles, para depois propagar o produto.

Essa expansão não busca, porém, um fim em si própria ou um fim financeiro. Na verdade, é esperada que aconteça por um motivo mais multisciente: a propagação da informação em si.

O conteúdo produzido por esses meios não é feito, em momento algum, para encaixar-se nos padrões, e isso inclusive foi uma das vantagens deles em relação aos grandes veículos na era da Internet. Portanto, é no jornalismo independente que vão surgir os temas que ninguém mais quer falar, ou que são evitados pelas grandes mídias por conta de audiência. Surge a democracia da informação em relação ao assunto e ao locutor.

Se esse interesse não nasce de princípios financeiros, podemos deduzir que venham do meio moral. Para os jornalistas independentes, é mais vantajoso poder explanar e se fazer ser ouvido sem ter o rabo preso a nada. Assim, fica mais fácil, também, não ceder às tentações da indústria cultural.

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Beatriz Gois
singular&plural

Jornalista até a alma e UX writer curiosa em formação. Sempre de olho nos freelas e em quem pode me trazer paz :)