A maneira da mídia retratar os recentes acontecimentos na realeza britânica

Roberta Tokunaga
singular&plural
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4 min readNov 23, 2018

Por Giovana Misson, Letícia Pazero e Roberta Tokunaga

Getty Images

A família real britânica tem que seguir uma série de regras e um protocolo extenso de como se comportar, andar, falar, se vestir, entre inúmeras outras coisas. Desde a recente chegada de Meghan Markle a realeza, a imprensa internacional vem publicando várias matérias sobre como ela está se saindo, em sua grande maioria, as matérias são focadas nos protocolos que a Duquesa vem quebrando. As notícias mais recentes sobre o mundo real são sobre três funcionários do palácio que se demitiram após a oficialização do cargo de Meghan como duquesa. Nos textos, eles dão a entender que o suposto comportamento difícil e inadequado da americana está fazendo com que os empregados largassem os trabalhos tão prestigiados.

O primeiro passo para entender os fatos narrados pelos jornais é conhecer os personagens, é normal que os leitores estejam familiarizados com a história de Harry, príncipe de Sussex e de sua esposa Meghan. Os veículos, citam os funcionários brevemente, entretanto, um caso chamou a atenção dos jornalistas, o caso da secretaria pessoal do casal, Samantha Cohen, que está com a família real a quase 20 anos e a considerada a funcionária de maior confiança da rainha Elizabeth II.

Cohen foi indicada para acompanhar a duquesa de perto e a ajudar a se adaptar em sua nova vida dentro da realeza e faria esse trabalho durante seis meses apenas. Entretanto, após alguns poucos meses ela pediu demissão e nem ela, nem o palácio se pronunciaram sobre o ocorrido. Isso levou os jornalistas a atacarem a ex-atriz, segundo o “The Daily Mail”, um dos jornais mais populares do país, as demissões estão diretamente ligadas às exigências da duquesa.

Além de evidenciarem a opinião sobre os ocorridos, o jornal criticou a personalidade da integrante da família como “furacão”, fato desnecessário para colocar na matéria. Caracterizar a personalidade de uma pessoa como uma brincadeira não cabe em uma matéria jornalística, principalmente após denunciar seus atos como explicação das demissões, o apelido por si só deixa

claro a opinião do veículo sobre o assunto. Além disso, ao falar que três pessoas saíram de seus cargos, o mínimo que se espera da notícia é mostrar todos os casos e não apenas um.

A informação replicou em diversos tabloides pelo mundo, inclusive no Brasil, a revista Marie Claire deu sua própria versão. Porém, ao invés de analisarem a notícia, aparentemente eles copiaram e coloram o texto modificando apenas algumas palavras.

O título “Jornal britânico critica ‘’personalidade difícil’’ de Meghan Markle” já é colocado para fazer com que as pessoas cliquem, simplesmente para ter mais audiência, devido a polêmica do assunto. A matéria, tenta apenas falar o que aconteceu, ou seja, falar que o jornal britânico criticou a duquesa, além disso, eles falam sobre a situação entre ela e seu pai, Thomas Markle, que também vem criando diversas polêmicas sobre o assunto. Entretanto, em nenhum momento a revista tenta dar o lado da duquesa, o veículo não aborda o fato de que ela teria o dobro de dificuldade de se adequar do que uma outra moça que já estivesse acostumada com os mesmos costumes do país, e fosse próxima da família real, como foi o fato de Kate Middleton.

Já a Cosmopolitan foi bem sucinta ao tratar do assunto. Após apresentar o ocorrido, o veículo deixa bem claro que não há informações vindas de uma fonte oficial, dando a entender que tudo pode não passar de um boato. Além disso, a Cosmo, como é chamada popularmente, usa termos como “Aparentemente”, deixando de atribuir qualquer possível culpa para si.

No final da nota, o veículo faz uma brincadeira dizendo que essa seria a chance da população enviar o currículo. Contudo, o site deixa a seguinte pergunta “Você gostaria de ser assistente de Meghan Markle?” Que pode ser interpretada como uma pergunta tendenciosa, indicando que ninguém gostaria de trabalhar para a duquesa.

Na chamada da nota da News.com não é explícito o motivo da demissão dos trabalhadores, isso só é possível entender ao decorrer da matéria. No texto eles falam que em “apenas seis meses” a realeza perdeu três empregados. A palavra apenas dá a entender que foi muito pouco tempo para uma perda tão grande de três funcionários. Ou seja, o próprio veículo determinou o que foi muito

e o que foi pouco. Nesse caso, eles afirmam que a proporção de tempo foi inferior à quantidade de trabalhadores que se demitiram.

Em outro trecho eles falam que Melissa saiu, mas que não foi a única, essa parte pode ser interpretada como se Melissa não tivesse dado conta do trabalho, mas que outras pessoas também não e além disso traz a impressão de que o ocupante do cargo exercia funções além do que se pode aguentar.

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