A notícia precoce dada pela mídia
A notícia da morte de Paulo Gustavo repercutida pelos meios de comunicação
Por Isabela Minelli e Joyce Oliveira
O mês de maio de 2021, dentre tantos óbitos, foi marcado pela morte de Paulo Gustavo. O ator da Rede Globo estava travando uma batalha contra a covid-19 desde março deste ano, quando foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, apesar do trabalho hospitalar, ele não sobreviveu.
Desde sua interação, no dia 13 de março, diversas notícias sobre seu estado de saúde eram compartilhadas regularmente pela assessoria do ator, sua família e amigos. Entretanto, também foram compartilhadas notícias sem procedência por portais e blogs de notícias, o que causou desentendimentos e chocou a todos os familiares, amigos e espectadores.
A imprensa brasileira está cada vez mais sujeita a cometer falhas éticas, levando em consideração que divergências como a apresentada anteriormente têm se mostrado cada vez mais frequentes pela mídia. O que coloca em xeque a questão ética jornalística e o comprometimento com a imparcialidade dos fatos noticiados, quando atualmente a ideologia dos portais de informação e dos jornalistas tendem a preceder os critérios de noticiabilidade.
A morte de Paulo Gustavo, no dia 4 de maio, esteve no topo do agendamento midiático, sendo repercutida por dezenas de canais durante a semana do acontecimento. Com matérias noticiando a morte do ator e especiais contando sobre sua trajetória, além de sua batalha contra o coronavírus nos últimos meses, nos principais veículos e jornais de comunicação de todo o Brasil como Globo, UOL e CNN Brasil. Contudo, alguns veículos foram criticados por publicarem notícias sem o conhecimento da família ou por não condizerem com a realidade e darem a informação da morte do ator antes de sua confirmação.
Na matéria divulgada pelo portal Catraca Livre, no dia 4 de maio de 2021, “Record mostra família de Paulo Gustavo em hospital e é detonada na web”, é perceptível o ponto de vista do veículo sobre a falta de ética da Record TV ao vazar imagens íntimas da família no hospital, replicando comentários feitos por internautas que apontam “uma postura sensacionalista da emissora” ao utilizarem adjetivos como “detonada” e “de forma falsa” para se referirem a ela.
De acordo com Heloiza Golspan, os significados tanto aparentes, quanto implícitos das narrativas jornalísticas devem ser avaliados; expondo os conflitos, interesses, ambiguidades ou ideologias para a análise de conteúdo. Ainda nessa reportagem é revelado o caso do canal “Em Off”, que divulgou antecipadamente a morte do ator, sem nenhuma confirmação médica ou da assessoria, o que mostra o interesse do canal por ser o primeiro a dar a notícia, ainda que ignorasse a ética jornalística, como descrita pela Carta Ética Mundial para Periodistas.
Para isso, o portal Catraca Livre utilizou um tweet de Tatá Werneck, amiga íntima de Paulo Gustavo, que utiliza de adjetivos como “cruel” e expressões como “tirarem as chances e as esperanças” e também “não deem notícias para ganhar likes”, para se referir ao acontecimento, o exibindo de forma negativa.
O site Notícias da TV, expressou, por meio da manchete “Morte de Paulo Gustavo foi show de horrores em parte da mídia”, no dia 5 de maio, seu ponto de vista sobre a notícia antecipada da morte do ator. Expressões como “neste tipo de cobertura, mais do que nunca, é preciso prezar pelos limites éticos”; “erros inaceitáveis para o bom jornalismo”; “a desumanidade foi gigante por parte de certos veículos de comunicação”, em conjunto com adjetivos utilizados na matéria, como “covardia” e “descredibilidade”, reforçam o ponto de vista negativo do portal sobre o fato da antecipação da informação.
O quesito morte é um critério de noticiabilidade dado no qual a sociedade vê esse tipo de acontecimento como de interesse público; contudo, isso deve condizer com a realidade e seguir a regra básica do jornalismo, a qual afirma que uma notícia precisa ser confirmada por uma fonte direta. Assim, ainda que o fato da morte de Paulo Gustavo faça parte dos critérios de noticiabilidade como notoriedade, tempo, relevância e novidade, cabe aos veículos prezar pela verdade acima de suas próprias ideologias, analisando valores profissionais éticos. Sendo que nas matérias apresentadas, os portais julgam o fato do noticiamento precoce como incorreto, se posicionando para defender aquilo que acreditam ser o mais correto.
