A nova era jornalística em busca de cliques

Com o avanço das mídias sociais, o jornalismo viu a necessidade de se reinventar diante da materialização do seu modelo de negócio

Mariana Bentes
singular&plural
3 min readApr 3, 2022

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Por Carolina Lobo, Julia Simões e Mariana Bentes

Atualmente, o jornalismo se constrói com a corrida pelo furo jornalístico, influência da fusão do jornalismo com a internet e a publicidade. Com isso, o tempo, a quantidade de cliques e o número de compartilhamentos são mais levados em consideração do que o próprio conteúdo da notícia, ou seja, o lucro é mais interessante do que informar os próprios leitores/consumidores, isso se prova com o aumento de publicações patrocinadas em veículos jornalísticos — o conhecido branded content.

Assim como a sociedade, o jornalismo, enquanto modelo de negócio/empresa, precisou se adaptar para se encaixar aos novos padrões, influenciados fortemente pelo capitalismo, marcado pelo consumismo exacerbado e imediatismo (afinal, tempo é dinheiro). Hoje em dia, as pessoas não possuem o hábito de se informar e acabam procurando por notícias concisas, que vão de acordo com os princípios da sua própria bolha.

Com a internet, as redes sociais e, também, com o surgimento e popularização dos podcasts, o conceito de verdade dentro do jornalismo sofreu uma mutação, ou seja, para conseguir retornos financeiros, o recorte jornalístico deixou de apurar os fatos relevantes de cada notícia, para dar visibilidade àquilo que irá gerar cliques, consequentemente, dinheiro, mesmo sem apresentar critérios de relevância, gerando um compartilhamento gigantesco de fake news nas redes. Muitas vezes, os portais e produtores de podcast nem checam as informações, apenas reproduzem o que está em alta, na maioria das vezes, assuntos polêmicos e fofocas.

Diante da pluralidade de vozes nas redes, os conceitos de liberdade e autonomia estão fadados a uma inversão de valores. As pessoas são livres para falar sobre qualquer tema nas redes, desde que esse assunto não fira parcelas da sociedade; logo é importante ressaltar a necessidade de um embasamento teórico para a pré-produção dos conteúdos, já que eles alcançarão diversas pessoas.

Contudo, mesmo os profissionais da área sabendo os critérios jornalísticos como verdade/factualidade e relevância, por exemplo, ainda existem muitos veículos que prezam lucro em detrimento da boa informação. Meios de comunicação como o rádio, jornal impresso e até mesmo a criação de podcasts são provas disso. Por exemplo: o jornalista Luiz Bacci, do programa Cidade Alerta, da emissora Record. A programação de seu noticiário é construída por uma série de matérias sensacionalistas, nas quais o apresentador só “revela” o desfecho da notícia quando percebe que a audiência está conforme o esperado.

Luiz Bacci, 38 anos, apresentando o seu programa da Record TV. Foto de Edu Moraes — Record TV

Outro exemplo a ser utilizado do mesmo apresentador é o caso da morte da menina Marcela Aranda (confira aqui). A jovem estava desaparecida há alguns dias e a família, sem notícias, recorreu para a ajuda da mídia. Após uma longa cobertura do inquérito do sumiço da jovem, o apresentador Bacci, sem empatia e ética, informou ao vivo à mãe dela que sua filha havia sido assassinada e a mulher desmaiou ao vivo. A câmera esteve ligada o tempo todo, a fim de aumentar a audiência, sem ao menos se preocupar com a dor daquela mãe.

Dessa maneira, com esses exemplos, podemos concluir que o jornalismo está perdendo, aos poucos, a sua ética em busca de lucro. Logo o jornalismo, hoje em dia, é considerado uma empresa, que é interessada em ganhos e não se preocupa em informar a população com veracidade e imparcialidade.

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