A responsabilidade jornalística nas novas mídias
Após perder espaço, o jornalismo precisa retomar o controle diante de tantos erros
Por Caio Vasconcelos
As formas de fazer jornalismo mudaram. Atualmente, por conta da forte presença da internet na vida das pessoas, o maior número de acesso a notícias se encontra nela. Querendo ou não, nós, jornalistas, não fomos os primeiros a ingressar no mundo digital. Esse certo “atraso” fez com que perdêssemos espaço para influenciadores com visibilidade altíssima. A maior prova disso é que os podcasts mais famosos do Brasil não possuem a participação de jornalistas.
Eu não vejo problema em uma pessoa que não é formada ou nunca trabalhou na área jornalística produzir um conteúdo informativo, aliás, existem vários exemplos de ótimos comunicadores que não possuem um diploma. O problema é quando esses comunicadores dão opiniões absurdas e esquecem o poder que um microfone tem, principalmente nas mãos erradas. A influência sob o público que te acompanha e te venera é enorme e, caso você fale algo de forma errada, esses fãs podem tomar a sua fala como verdade, mesmo que ela seja inapropriada.
Podemos usar como exemplo a fala do Monark — influenciador e ex-host de um dos maiores podcasts do Brasil (Flow Podcast) — quando entrevistou os deputados federais Kim Kataguiri e Tábata Amaral. Ao discutir sobre liberdade de expressão, defendeu a existência de um partido nazista no nosso país. Com toda a certeza, o comunicador em questão não sabia das consequências que uma fala dessas poderia causar, tanto para a sua vida quanto para os seus ouvintes. Após o episódio, Monark foi demitido do programa, mas ainda assim muitas pessoas ficaram ao lado dele.
Fato é que, no mês passado, o comunicador anunciou o seu novo podcast (Monark Talks) em uma nova plataforma. Atualmente, o canal de cortes dele no YouTube já ultrapassa 3,63 milhões de inscritos, 20 mil inscritos a menos que a sua antiga casa (Flow Podcast) com 3,80 milhões.
No começo de 2020, Rogério Skylab já havia alertado Monark sobre a sua responsabilidade como comunicador, quando o cantor disse que, apesar da conversa entre eles ser informal, o programa ali feito continuava sendo jornalístico, independente da formação do host.
Já passou da hora dos jornalistas se adaptarem à nova forma de praticar a profissão, entender como o novo público reage na internet e servir de inspiração, para que esses influenciadores não repitam os erros com tanta frequência. A questão não é impor a nossa profissão e impedir pessoas sem formação de praticá-la, mas passar a visão sobre a ética jornalística para que o espectador não seja influenciado de forma errada.
Um ótimo exemplo de representação jornalística na internet é o streamer Casimiro, que consegue se comunicar com o público jovem de forma perfeita, informal e respeitando a ética da profissão. Hoje, o seu canal no Youtube possui mais de 2,40 milhões de inscritos e é um dos canais mais acessados na Twitch (plataforma de streaming).