Análise da grande mídia sobre o discurso de Jair Bolsonaro na ONU

As diferenças presentes na cobertura de diversos portais jornalísticos brasileiros sobre o discurso do atual presidente da República

Caique Diniz
singular&plural
3 min readOct 9, 2021

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Por Caique Diniz e Leonardo Rinaldi

Jair Bolsonaro, durante a 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) - Foto: Alan Santos/ Agência Brasil

Na terça-feira, 21 de setembro de 2021, o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, discursava na 76ª Assembleia da Nações Unidas (ONU), em Nova York. Era a primeira vez, após início da pandemia, que representantes de diversos países que fazem parte do grupo estavam nos Estados Unidos para um encontro de maneira presencial, para discutir diversos temas de relevância mundial, como a crise humanitária que afeta o Afeganistão, problemas envolvendo o aquecimento global e, principalmente, a vacinação geral da população contra a covid-19.

O líder de estado brasileiro, por tradição, foi o primeiro a se apresentar e a falar. Até aquele momento, as apurações de jornalistas especialistas da área política apontavam que o presidente brasileiro poderia fazer acenos para o norte-americano Joe Biden e para os temas citados acima, alguns que durante o último ano o presidente desacreditou ou até negou em prol de sua conduta negacionista.

Entretanto, o que foi visto na Assembleia Geral das Nações Unidas foi um discurso desconectado da realidade e que mirava apenas sua bolha de apoiadores. O discurso gerou grande repercussão na mídia, muitos veículos de imprensa noticiaram o que de fato aconteceu. Como um exemplo, a chamada do G1 foi:

“Na ONU, Bolsonaro distorce dados sobre ambiente e economia e defende tratamento ineficaz contra covid”.

Já o portal UOL apontou em sua chamada os erros ditos envolvendo a pandemia e o discurso contrário ao que realmente acontece com a Amazônia desde o início da gestão do presidente:

“Na ONU, Bolsonaro insiste em erros da pandemia e mente sobre Amazônia”.

Assim seguiu boa parte dos veículos de imprensa, que por meio de agências de checagem desmentiram o discurso do presidente apontando dados científicos e estatísticos colhidos durante a pandemia e que, de maneira sistêmica, são negados pelo representante do poder Executivo do Brasil.

Entretanto, outros veículos trataram o discurso do presidente como assertivo e que representava de fato, o que a população gostaria de ouvir, segundo a Jovem Pan:

“Bolsonaro trouxe o que a imprensa internacional não vê, diz Conrado sobre discurso na ONU”.

Para os jornalistas desse veículo, o presidente apresentou a realidade dos fatos e contrariou a grande mídia que, segundo os comentaristas da rádio, estaria perdendo leitores por distorcer a realidade. Já o portal R7 teve a seguinte chamada:

“Bolsonaro adota tom ameno e defende a liberdade na ONU”.

Ambos os veículos em suas matérias apenas noticiaram o fato ocorrido e preferiram não desmentir as falas de Bolsonaro.

Segundo a última pesquisa Ipec, antigo Ibope, realizada entre os dias 16 e 20 de setembro de 2021, apenas 22% da população brasileira avalia o atual governo federal como ótimo ou bom; e cerca de 53% desaprovam a gestão Bolsonaro, ante a 39% do começo deste ano. Além disso, cerca de 68% dos entrevistados desaprovam a conduta ou a maneira de governar do presidente; e 69% não confiam nele.

Afirmar que a conduta da grande mídia é mentirosa é, de fato, fugir da realidade apontada pela pesquisa citada, sendo assim fazer palanque para o presidente. A Jovem Pan, desde o começo da atual legislatura, tem fechado os olhos, ou como recentemente, defende pautas pró-governo e fere o 2° artigo do Código de Ética Jornalística:

“A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade”.

Essa atitude, além de ferir as condutas e ética do jornalismo, também custearam vidas de pessoas que, durante a pandemia da covid-19, acreditaram na divulgação e propagação de notícias do veículo.

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