Análise da produção do portal da revista Cláudia pela cobertura do assassinato de Marielle Franco

Por Danielle Souza

A Revista Cláudia é a revista feminina com maior audiência no País. Em 2017, seu website alcançou 5,3 milhões de pageviews (um parâmetro para mostrar parte ou o todo de visualizações), além das 3,5 milhões de unique visitors (visitantes que voltam com frequência, em um período determinado, ao site), segundo seu Mídia Kit. Audiência essa muito superior àversão impressa, com seus 367 mil exemplares em circulação (dados resultantes da média de janeiro a outubro de 2017).

A revista feminina trata, pelas suas palavras,dentre outros assuntos de: “Discussões quentes sobre as causas femininas, equidade de gênero no mercado de trabalho e equidade”. Como seriam as publicações no site, lido por mulheres de 25 a 44 anos, sobre a violenta morte de Marielle Franco, mulher negra, periférica, lésbica e quinta vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro em 2016?

Do dia 15 a 22 de março, o assassinato da vereadora Marielle Franco foi publicado em 41 matérias, que mesclaram dados e relatos sobre as investigações, que podem ser dividas em: relatos do crime e das investigações, reações de famosos e figuras públicas,homenagens, trajetória de Marielle e falas sobre ela, fake news divulgadas sobre a vereadora, Anderson Gomes — o motorista vítima do mesmo crime, Monica Benicio — A namorada de Marielle Franco, reflexões e opiniões da Revista Cláudia.

Desses textos, 38 reproduziram informações de outros veículos de comunicação, atribuindo o devido crédito, além de, também, agrupar e reproduzir publicações de redes sociais de familiares, amigos da vítima e também celebridades que se manifestaram sobre a morte de Marielle e suas repercussões na mídia. Elas podem ser encontradas pela hashtag #Mariellepresente.

O conteúdo de apuração própria está presente nas seguintes matérias: Marielle Franco: O que as mulheres que estavam no ato têm a dizer; Atos pelo país protestam contra assassinato de Marielle Franco e Monica Benicio: a história do grande amor de Marielle Franco.

A revista mostra ter sensibilidade sobre a necessidade do recorte racial ao escolher, em sua maioria, mulheres negras entre as manifestantes para expressarem suas opiniões sobre a situação da mulher negra na matéria Marielle Franco: O que as mulheres que estavam no ato têm a dizer . No país em que mulheres negras de 15 a 29 anos têm o dobro de chance de serem mortas, comparadas a mulheres brancas — dados do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência divulgado em 2017(dados de 2015) — essa é uma posição coerente.

Contudo, as duas postagens sobre as manifestações, apesar de apresentarem a voz da rua em cliques únicos — só percebidos pelo observador que também é participante — podiam ser mais exploradas no ambiente online, de audiência superior à versão impressa. Não seria necessário acrescentar um pouco mais de dedicação às páginas da web?

O texto Monica Benicio: a história do grande amor de Marielle Franco é essencial para entender essa divisão de estratégia. Ele é um relato, com mistura de jornalismo literário, de como a autora do texto organizou entrevista com namorada de Marielle,Monica Benicio, em que revela de antemão algumas falas dela, uma pequena parte do material que será publicado na edição de abril da revista Cláudia.Poderia esse tipo de texto ser o ideal no ambiente online?

O meio digital, apesar de acessado todos os dias, ainda sofre e precisa sofrer muitas alterações para se adequar à transformação do modelo de negócio do jornalismo. Divulgar informações em tempo real, em grande número e sem muito aprofundamento, e selecionar a versão impressa para as matérias de impacto, com a cobertura própria e in loco de peso? Essas são as dúvidas que continuarão a martelar nossas cabeças quando formos transmitir conteúdo.

Referências bibliográficas

REVISTA CLÁUDIA. Mídia Kit Cláudia. [São Paulo]: Publiabril, 2018. 28 slides, color. Disponível em: <http://publiabril.abril.com.br/midia_kits?page=2>. Acesso em: 25 mar. 2018.

Piauí. SobreElas: Mulheres negras, como Marielle Franco, são as que mais morrem no Brasil. Disponível em: <http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/03/15/sobreelas-marielle-franco/>. Acesso em: 25 mar. 2018.