Apps de delivery como exploradores do comércio gastronômico em SP

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3 min readJun 13, 2021

Aplicativo líder de mercado no país desperta ódio entre donos de restaurantes na capital com descontos abusivos

Por Vitor Grane Diniz

N o Brasil, após a pandemia, a relevância dos restaurantes passou por grandes mudanças. Prova disso é o fenômeno em que se transformou o iFood, principal aplicativo de delivery do país. Hoje em dia, a ideia não é buscar novos lugares para comer e consequentemente evitar aglomerações, mas sim garantir que a sua entrega, além de rápida, saia quase de graça. As interações e polêmicas apresentadas pelo aplicativo o colocaram para além: agora restaurantes estão falindo por conta da administração mal-feita.

Essa nova dinâmica, no entanto, não significa que o iFood tenha se tornado seletivo. Na verdade, ocorreu o oposto. Como mostram os números de usuários e de restaurantes cadastrados, a popularização do app está mais alta do que nunca. O público consumidor não só compra e consome com frequência, mas também busca garantir o seu almoço um dia antes por um menor preço pela opção “Loop”. Nem mesmo o app da Rappi, antes rivalizado com o iFood, obteve tanto sucesso na massificação de seus usuários.

Em termos jornalísticos, é aqui que o interesse do público influi no interesse público: quando a busca por novas vendas dá lugar à reflexão de que nem sempre isso fará bem para todas as partes, e isso tem o potencial de causar mudanças sociais. As repercussões, porém, nem sempre são tão positivas como se pensa. Caso os clientes e restaurantes reivindiquem para si o papel de fazer justiça, os danos sociais podem ser maiores do que os benefícios. Como é o caso de uma hamburgueria no centro de SP que faliu após entrar para o app.

De acordo com a reportagem feita pelo G1, os seus produtos não eram exibidos na seção de comida barata do iFood, a de até R$ 10. O restaurante questionou o aplicativo, mas não obteve resposta conclusiva. Sem pedidos, não suportou os custos e encerrou definitivamente a operação em novembro. Trata-se de uma quantidade esmagadora de descontos que o app coloca sobre os pratos de restaurante — o que levanta algumas questões fundamentais: qual o limite do esforço necessário para conquistar mais clientes? Se colocar nessa situação vale a pena? Até que ponto o imediatismo pode ser um ponto positivo para o seu restaurante?

Acusada de impor pressão sobre os descontos, a empresa de delivery tem sido rejeitada por muitos restaurantes que estão inclusive, se retirando. Por mais que muitos ainda o usem, o app tem diminuído sua reputação e insiste em dizer que tem seguido as diretrizes éticas da lei. É nesse ponto que a justificativa se perde. Se antes o uso e a avaliação eram positivos, com benefícios e descontos que favoreciam ambas as partes, agora ele se tornou tóxico, forçando restaurantes a fecharem suas portas porque não há entrega de seus produtos.

É um ciclo de ódio o que estamos vivendo, onde constantemente passamos pelos direitos do outro por busca de interesses próprios. É preciso tomar cuidado, então, com o crescimento dos discursos de ódio. O papel da comunicação, então, é promover que injustiças como essa realmente criem um pensamento crítico na população. Somente assim parariam de usar o app ou até mesmo defender a posição dos restaurantes a ponto de a situação mudar.

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