Apps de delivery como exploradores do comércio gastronômico em SP
Aplicativo líder de mercado no país desperta ódio entre donos de restaurantes na capital com descontos abusivos
Por Vitor Grane Diniz
N o Brasil, após a pandemia, a relevância dos restaurantes passou por grandes mudanças. Prova disso é o fenômeno em que se transformou o iFood, principal aplicativo de delivery do país. Hoje em dia, a ideia não é buscar novos lugares para comer e consequentemente evitar aglomerações, mas sim garantir que a sua entrega, além de rápida, saia quase de graça. As interações e polêmicas apresentadas pelo aplicativo o colocaram para além: agora restaurantes estão falindo por conta da administração mal-feita.
Essa nova dinâmica, no entanto, não significa que o iFood tenha se tornado seletivo. Na verdade, ocorreu o oposto. Como mostram os números de usuários e de restaurantes cadastrados, a popularização do app está mais alta do que nunca. O público consumidor não só compra e consome com frequência, mas também busca garantir o seu almoço um dia antes por um menor preço pela opção “Loop”. Nem mesmo o app da Rappi, antes rivalizado com o iFood, obteve tanto sucesso na massificação de seus usuários.
Em termos jornalísticos, é aqui que o interesse do público influi no interesse público: quando a busca por novas vendas dá lugar à reflexão de que nem sempre isso fará bem para todas as partes, e isso tem o potencial de causar mudanças sociais. As repercussões, porém, nem sempre são tão positivas como se pensa. Caso os clientes e restaurantes reivindiquem para si o papel de fazer justiça, os danos sociais podem ser maiores do que os benefícios. Como é o caso de uma hamburgueria no centro de SP que faliu após entrar para o app.
De acordo com a reportagem feita pelo G1, os seus produtos não eram exibidos na seção de comida barata do iFood, a de até R$ 10. O restaurante questionou o aplicativo, mas não obteve resposta conclusiva. Sem pedidos, não suportou os custos e encerrou definitivamente a operação em novembro. Trata-se de uma quantidade esmagadora de descontos que o app coloca sobre os pratos de restaurante — o que levanta algumas questões fundamentais: qual o limite do esforço necessário para conquistar mais clientes? Se colocar nessa situação vale a pena? Até que ponto o imediatismo pode ser um ponto positivo para o seu restaurante?
Acusada de impor pressão sobre os descontos, a empresa de delivery tem sido rejeitada por muitos restaurantes que estão inclusive, se retirando. Por mais que muitos ainda o usem, o app tem diminuído sua reputação e insiste em dizer que tem seguido as diretrizes éticas da lei. É nesse ponto que a justificativa se perde. Se antes o uso e a avaliação eram positivos, com benefícios e descontos que favoreciam ambas as partes, agora ele se tornou tóxico, forçando restaurantes a fecharem suas portas porque não há entrega de seus produtos.
É um ciclo de ódio o que estamos vivendo, onde constantemente passamos pelos direitos do outro por busca de interesses próprios. É preciso tomar cuidado, então, com o crescimento dos discursos de ódio. O papel da comunicação, então, é promover que injustiças como essa realmente criem um pensamento crítico na população. Somente assim parariam de usar o app ou até mesmo defender a posição dos restaurantes a ponto de a situação mudar.