Artilheira, não só em campo
Ada Hegerberg se torna a primeira mulher a receber o Ballon d’Or da France Football, e dá aula
Por Vinícius Bolaina
Seja para qualquer pessoa, que entenda ou não de futebol, é evidente que esse é um meio extremamente machista. O prêmio dado aos melhores jogadores pela revista France Football, chamado de Ballon d’Or, ou então bola de ouro em português, existe desde 1956, e agora em dezembro de 2018 tivemos uma mulher sendo premiada pela primeira vez.
A eleita foi a atacante Ada Hegerberg, norueguesa, 23 anos e jogadora do Lyon da França. Entretanto, parece que esse não foi o maior caso da noite de festa organizada em Paris. Após receber o prêmio, a jogadora foi “convidada” pelo apresentador, o DJ francês Martin Solveig a fazer uma demonstração do “twerk”, dança que consiste em rebolar o quadril. A jogadora, visivelmente desconfortável, respondeu com um breve “não”.
Todo esse acontecimento não demorou a tomar as manchetes de vários veículos, mas o que mais chamou a atenção foi como isso pôde ocultar o fato da jogadora de apenas 23 anos ter batido o recorde de gols em uma única edição da Liga dos Campeões e de ter conquistado o torneio europeu pela terceira vez seguida.
Em seu site, a Folha de S.Paulo escreveu uma matéria sobre a jogadora e nem citou que ela era simplesmente a melhor do mundo, apenas a nomeou como “norueguesa que se negou a rebolar”, além de usar a manchete para, de certa forma prejudicá-la, dizendo que ela deixou sua seleção.
Eva não atua pela seleção de seu país há mais de um ano por não concordar com a forma que a confederação trata a seleção feminina se comparada com a masculina. A matéria trata o protesto de Ada como fruto de uma “frustração” e diminui o impacto da intenção da jogadora, que sempre lutou pelos direitos iguais das mulheres no esporte.
Mesmo tentando contextualizar a importância da jogadora no cenário de luta por igualdade, a reportagem, além de ter um título bem machista, faz pouco caso para esses detalhes e acaba focando mais em apresentar a premiada da noite como alguém que não se sentiu tão chateada pelo que aconteceu e por focar que a atitude foi sexista, apenas na visão de algumas pessoas.
Ada Hegerberg se tornou a primeira mulher vencedora do prêmio France Football Ballon d’Or, melhor jogadora do mundo em 2018 e uma grande lutadora dos direitos de igualdade de gênero, e por isso ela é conhecida, por marcar gols dentro e fora de campo.