As lições de 2013: o que aprendemos com as jornadas de junho e com a greve dos caminhoneiros?

matheus zago
singular&plural
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2 min readJun 20, 2018

Por Matheus Zago

Até as proximidades do início da Copa do Mundo de futebol, o assunto que mais ressoava na cobertura da imprensa eram as motivações e os desdobramentos da greve dos caminhoneiros. Discussões a parte sobre a legitimidade do movimento (hora mencionado como greve, hora mencionado como locaute pelos setores da imprensa tradicional), houve uma notável mudança no tom de cobertura da imprensa, principalmente por parte da Rede Globo, igual houve com as jornadas de junho de 2013.

Em 2013, a Globo, por até então não compreender (provavelmente ninguém ainda compreendia) os descontentamentos gerais da população, realizou uma cobertura majoritária dos aspectos negativos dos protestos, como por exemplo, os casos de vandalismo, mas “passando um pano” para a atuação violenta das forças de segurança. Após observar que a maioria da população simpatizava com as motivações dos protestos, a Globo rapidamente mudou o tom, ficando emblemático o caso da mudança de opinião de Arnaldo Jabor, que se desculpou por um comentário contrário ao movimento. Este ocorrido mostra um preocupante caráter de manipulação da opinião pública exercido pelos veículos de comunicação. Podemos especular e relacionar a má vontade da imprensa com determinadas demandas populares com seu compromisso de atender as demandas do establishment político. Essa é uma das razões pela qual a Globo foi duramente criticada pela população e também foi alvo dos protestos.

Tanto a esquerda, que já ocupava as ruas antes de 2013, quanto à direita, que perdeu a timidez após as jornadas de junho, rejeitam as práticas da Rede Globo e protestaram contra ela. Mostra também uma tentativa de absorver as demandas da população, mas com os filtros do patronato da mídia, contrário aos anseios de democratização da mídia, uma das demandas das jornadas de junho.

No caso de 2018, também podemos observar a mudança no tom da cobertura. No início, a Globo se preocupava em criar alarde com a crise de desabastecimento, numa tentativa de deslegitimar o movimento e fazer com que as pessoas fossem contra o movimento. A irresponsabilidade da Rede Globo ao superestimar tão cedo as consequências da crise fez com que muitas pessoas fizessem grandes estoques de alimentos e filas nos postos de gasolina, agravando ainda mais a crise nos estoques. Depois que a população se mostrou majoritariamente favorável à paralisação dos caminhoneiros, mesmo com os transtornos sofridos por ela, a Rede Globo começou a dar um tom favorável à cobertura, se colocando como um dos arautos da moralidade e das aspirações por mudanças.

A verdade é que toda ruptura (ou tentativa) da ordem vigente jamais acontece sem o consentimento das elites (a qual os grandes veículos de comunicação pertencem), o que trás certa hipocrisia no conceito de “ruptura da ordem vigente”. Desta maneira, podemos perceber que por mais que haja uma série de reinvindicações justas dos trabalhadores autônomos, é evidente que não haveria tamanha organização e repercussão da greve dos caminhoneiros sem o interesse das elites e patrões do transporte de cargas.

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