As mortes de celebridades transformadas em reality show

Como a cobertura de veículos jornalísticos transformam as mortes de celebridades em verdadeiros espetáculos

Andrezzaferrigno
singular&plural
2 min readDec 2, 2021

--

Por Andrezza Ferrigno, Camille Santos e Isabella Scala

Devido a acontecimentos recentes, a cobertura jornalística das mortes de celebridades tem sido cada vez mais discutida. Em maio deste ano, a morte do MC Kevin ganhou grande notoriedade devido ao fato de ser uma figura popularmente conhecida, por ter sido uma morte precoce e pelo caso ter levantado inúmeras suspeitas e questionamentos.

MC Kevin, funkeiro de 23 anos, estava hospedado em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, quando caiu da varanda do 5º andar e morreu. Em 15 de novembro, após seis meses de investigação e inquéritos, o caso foi arquivado e a morte foi declarada como acidental.

A edição do Cidade Alerta (TV Record) seguinte à morte foi quase exclusivamente sobre o caso do cantor. Luiz Bacci, apresentador do programa, foi altamente criticado por seu sensacionalismo e falta de tato ao entrevistar a família e amigos de MC Kevin e fazer perguntas sensíveis, como quando ele questionou para a mãe se ela achava que o filho teria cometido suicídio.

Reportagem do Observatório da TV sobre cobertura da morte de MC Kevin (Reprodução: Observatório da TV)

Em novembro de 2021, a cantora sertaneja Marília Mendonça e outros quatro passageiros morreram em um trágico acidente de avião na Serra da Caratinga, interior de Minas Gerais. O local do acidente já estava sob os holofotes das maiores redes de televisão mesmo antes das mortes terem sido confirmadas. Nesse momento, os veículos jornalísticos se preocuparam mais com o imediatismo de levarem as notícias para os leitores, do que tratar um assunto sensível com cautela e ética. Inclusive, durante uma das transmissões, foi possível ver o corpo da cantora sendo coberto por uma lona. Ao priorizarem o imediatismo, e não a ética, o acidente foi transformado em espetáculo.

Um artigo publicado pela Folha de S.Paulo destacou a trajetória e o sucesso da cantora goianiense, porém o autor do texto, o colunista e professor Gustavo Alonso, foi acusado de machismo e gordofobia. Dias depois, o próprio jornal publicou outros artigos que rebatiam o texto original.

A suposta pluralidade de discursos criados pela Folha nos mostra a sua real preocupação: sua audiência. A criação de uma esfera em que a discussão seja sequestrada para esse veículo e a publicação de barbaridades seja permitida, com o objetivo de criar um ilusório espaço de debate, caminha totalmente contra ao real fazer jornalístico.

Esses casos acabam evidenciando a perda dos valores que devem ser seguidos na prática jornalística. Transformar coberturas em puro sensacionalismo para, dessa forma, conseguir trazer mais leitores para os seus veículos corrompe o primeiro princípio do jornalismo: trazer a verdade com ética.

--

--