Até onde vai a liberdade de expressão?

Isadora Travagin
singular&plural
Published in
4 min readMay 29, 2018

Por Beatriz Cerrato e Isadora Travagin

Segundo o filósofo Jean Sartre, para ocorrer a liberdade de expressão é necessário que haja respeito e também responsabilidade, ou seja, o meu limite termina quando o do outro começa. No caso, a expressividade só é considerada correta quando não ofende, não fere e nem interfere nos direitos de outro cidadão.

Com o avanço das tecnologias e o crescimento do uso internet e das redes sociais, o acesso para que as pessoas compartilhem fatos ficou muito maior e mais fácil. Notícias, artigos, reportagens, vídeos são compartilhados incessantemente a todo momento, pessoas conseguem colocar em pauta suas ideias e conclusões a respeito dos temas tratados.

O problema é que muitas vezes a população acaba disseminando matérias sensacionalistas e preconceituosas (ferindo a integridade física e psicológica de outros cidadãos), e consequentemente se utilizam de discursos de ódio, acabando completamente com o conceito da liberdade de expressão.

A mídia tem um papel muito importante quando se trata de liberdade de expressão, uma vez que ela é considerada a base formadora de opinião da maioria da população. Quando erra, propositalmente ou não, acaba trazendo muitas consequências para a sociedade.

A liberdade de expressão não é um direito absoluto, ela requer responsabilidades e deve sofrer restrições para não passar a ser considerada discurso de ódio, o qual se observa quando o sentimentalismo fica em primeiro plano, disseminando qualquer tipo de preconceito ou ferindo a dignidade, a integridade física e psicológica de alguém.

O holocausto, ocorrido na Segunda Guerra mundial, é conhecido como maior discurso de ódio e de xenofobia já registrado. Além do discurso de ódio abusar da liberdade de expressão, usando-a como desculpa, propaga, ao longo do tempo, a distorção de valores e banalizando atos de atacar, atirar e enfraquecer, desrespeitando completamente os Direitos Humanos e aumentando, assim, lentamente a intolerância.

E isso não seria diferente na carreira do jornalista: é necessário um cuidado maior para que os direitos de expressão não seja ferido. Deve-se destacar que quando o alcance do discurso é grande, transmitido através de mídias (principalmente as transmitidas em rede nacional), o emissor deve ter mais responsabilidade, além de ter consciência, pois ele acaba afetando e negligenciando pessoas, fazendo com que as sanções sejam maiores.

Infelizmente, casos que feriram esses direitos já aconteceram inúmeras vezes, como por exemplo o da Escola Base: um erro de apuração da grande mídia fez com que a massa popular entrasse com vários tipo de discursos de ódio, influenciando negativamente a vida de pessoas inocentes, tanto na questão profissional quanto pessoal.

O caso da repórter Rachel Sheherazade, também é um exemplo famoso: transmitido pelo SBT em fevereiro de 2014, Sheherazade proferiu sua opinião sobre os atos dos “justiceiros” usando um discurso de ódio. Na época a população amarrou um adolescente acusado de roubo nú a um poste, e ela dizia: “Está com dó? Leva para casa!”, além de menosprezar os Direitos Humanos, ela deu a entender que um bandido não merece esse tipo de “proteção”.

Outro exemplo bem famoso é o acontecido em janeiro de 2015: O jornal Francês Charlie Hebdo fez mau uso da liberdade de expressão e acabou se tornando vítima de um atentado terrorista.

O atentado foi puramente de cunho vingativo, uma censura ao jornal francês pela polêmica charge onde satirizou Maomé, figura sagrada do Islamismo. A mídia mundial foi à loucura, desde então nunca se discutiu tanto liberdade de imprensa. A quantidade de mortes devido uma “simples” charge, foi o que realmente chocou o mundo e o levou a questionar sobre a censura nas mídias. O fato é que, sim, o veículo foi infeliz em sua “piada”, mas o atentado foi uma resposta absurda, algo impensável e de proporções catastróficas.

Essas tendências de apoiar esse tipo de discurso e as ações que ele propaga, só é fortalecida através dos diversos preconceitos, os quais não respeitam as diferenças sociais, econômicas ou até mesmo visual.

Discursos como os de Mandela, Martin Luther King e Gandhi, jamais serão esquecidos e serão sempre citados como exemplos, pois eles marcaram a história do mundo lutando contra preconceitos. Educação para, acima de tudo, ir além da tolerância, respeitando as diferenças, enxergando-as como algo positivo e deve garantir convivência pública igualitária para todos é necessária para que esses acontecimentos discutidos ao longo do texto não voltem a ocorrer.

Como citou o dramaturgo Bertold Brech em um de seus poemas: “Numa época em que reina confusão, em que corre sangue, (…) em que a humanidade se desumaniza, não digam nunca: isso é natural! Para que nada passe a ser imutável.”, não devemos achar esses discursos e atitudes negativas normais, porque assim, eles jamais serão mudados.

Desta forma cabe ao jornalista — um profissional muito influente na formação de opinião — tomar muito cuidado no momento de produzir uma matéria. Não apenas na checagem de informações e fontes (o que é essencial), mas também se atentar ao modo pelo qual ele está transmitindo informações. É preciso muita responsabilidade para tratar de um assunto de maneira correta, evitando ao máximo o sensacionalismo.

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