Até que ponto confundimos ser jornalista com não ser humano

Analisando o caso de Luiz Bacci, veremos se de fato temos o direito de infringir o espaço dos outros para ganharmos uma “boa matéria”

Rafael Borges
singular&plural
2 min readMay 30, 2022

--

Por Giorgia Parrini e Rafael Borges

Imagem retirada do banco gratuito de imagens. Link: https://br.freepik.com/

No dia 7 de fevereiro de 2020, durante o programa ao vivo Cidade Alerta, o jornalista Luiz Bacci estava reportando o caso de Marcela, jovem grávida desaparecida em Guarulhos. Durante a apresentação, Luiz estava entrevistando a mãe normalmente, porém, em um momento, o advogado do namorado de Marcela afirmou que o parceiro havia confessado ser o responsável pela morte da jovem, terminando a especulação do que acontecera, e se a jovem estava ou não viva. Ao saber, pelo apresentador, da morte de sua filha, a mãe não se aguentou e começou a chorar, quase desmaiando. Durante todo esse agoniante processo, a câmera estava ligada e filmando tudo, desde as tentativas de Bacci de consolar e questionar como a mãe estava se sentindo, até a reação de desespero da mãe. Em nenhum momento vemos o apresentador querer parar com a gravação; no lugar disso, percebemos que ele tenta ao máximo repassar o sofrimento de alguém que acabou de perder uma filha para os telespectadores, tirando qualquer tipo de respeito pelo luto e pelo espaço da mãe.

Em qualquer curso de graduação a aula de ética é necessária, ainda mais quando a carreira se trata de relacionamentos entre humanos. Como mencionado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sobre a ética no currículo escolar, essa matéria “amplia a visão do aluno para sua própria capacidade, abolindo o preconceito e a falta de respeito, entendendo a diversidade em meio e fazendo parte desta se tornando apto a responder por suas atitudes”. Portanto, é de se esperar que um jornalista formado e com experiência no mundo profissional saiba os limites das pessoas quando a questão é ter suas imagens expostas. O que foi perceptível nesse caso é que ocorreu uma clara infração dos códigos de ética dos jornalistas, já que a mãe em nenhum momento aceitou ter esse momento tão particular e doloroso, não só noticiado em rede nacional, como ter sido abordada insistentemente pelo apresentador Luiz Bacci. Sendo assim, é incontestável o anti-jornalismo cometido pelo apresentador.

--

--