ATENÇÃO: este é mais um texto sobre fake news

Isabella Massoud
singular&plural
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3 min readMay 28, 2018

Recorrer ao termo quando jornais dizem verdades não favoráveis já começa a ganhar forças entre instituições e campanhas polêmicas

Por Isabella Massoud e Patrícia Holando

Não existe termo que tenha sido mais banalizado nos dias de hoje do que fake news. Essa expressão foi tão falada nos últimos tempos que foi eleita a palavra do ano de 2017 pelo dicionário Collins. O significado de “notícias falsas” começou a ser mais popularizado com o presidente americano Donald Trump, que costuma dizer que as mídias que o criticam são produtoras de fake news. Isso acabou se tornando uma arma de defesa para as pessoas públicas preservarem suas imagens. O então candidato à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, também usa fake news como uma espécie de escudo para se proteger da alta exposição midiática.

Donald Trump sobre Fake News (Reprodução/Twitter)

Mas a real essência das fake news está na confiança que damos ao publicador. Por exemplo, se você acredita em fulaninho, e ele diz que a matéria publicada em site x é fake news, você tende a dar credibilidade para quem compartilhou a notícia com você: “Ah, foi meu tio que me disse!”. De certa forma, é uma espécie de persuasão — e manipulação — mesmo que sem vontade do emissor.

Um exemplo mais recente é o novo ‘sucesso’ de bilheteria nacional: Nada a Perder. O filme, que conta a história do bispo Edir Macedo, teve vendas extraordinárias de bilheteria e já tem sequência programada para 2019. Para comprovar esse sucesso, muitos jornalistas foram aos cinemas e descobriram que as sessões lotadas, estavam vazias. Apurando mais os fatos, viram que alguns grupos ligados ao bispo compraram grandes quantidades de ingressos e estavam doando para os interessados em assistir. Quando esses fatos foram publicados, a Igreja Universal publicou uma nota com a seguinte manchete: Nota à Imprensa: Inconformada com sucesso de Nada a Perder, mídia apela para fake news. No texto, a instituição explica que a apuração foi feita de forma errada e pede aos repórteres que voltem aos cinemas para terem certeza do sucesso do longa. Deixando claro que aqui a crítica não é contra a Igreja, e sim contra o fato de que hoje é muito fácil usar o argumento “é fake news!” para tudo aquilo que pode prejudicar uma boa imagem.

Filme biográfico sobre Edir Macedo (Reprodução)

O problema é que falar sobre fake news virou moda. Agora já é um termo que todo mundo diz saber sobre o que se trata. A confiança em quem compartilha a notícia é maior do que a importância de checar a fonte, checar a própria notícia. Estamos vivendo em um aglomerado de fatores que contribuem para sermos persuadidos: títulos sensacionalistas, compartilhamento instantâneo, e valorização da audiência apenas. O próprio jornalismo virou vítima das fake news! Elas estão por toda parte, são exaltadas, enquanto as true news não ganham destaque nas redes sociais, ficam esquecidas nos arquivos dos sites.

Devemos sim falar sobre isso, mas tudo que é banalizado acaba perdendo sua importância.

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