Café com Jornal: tentativa de inovação do jornalismo

Marcela Gasperini
singular&plural
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5 min readMar 24, 2018

Em meio a tantas mudanças no modo atual de informar, jornal matinal da Rede Bandeirantes tenta inovar sua forma de comunicar

Por Marcela Gasperini e Marina Xavier

Nos últimos anos, vários autores, pesquisadores e atuantes da profissão do jornalismo têm enfatizado a necessidade de se repensar o modelo tradicional comumente conhecido. Pertencente à uma nova era tecnológica, a efetividade da conhecida objetividade do lead e a funcionalidade da bancada em termos televisivos acentuam a cada dia uma discussão que engloba diversos pontos de vista.

Na década de 1960, justamente ao perceber a capacidade das pessoas de acesso rápido à informação e curiosidade por novas fórmulas, o jornalismo literário por exemplo, começou a ser apresentado como uma nova maneira de entender o produto jornalístico. Atualmente, as grandes emissoras e redações tentam fazer o mesmo.

Diante da agilidade de informações transmitidas a todo o minuto pela ferramenta da internet, grandes programas de TV como o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, que é nacionalmente conhecido por seu apego ao convencional, recentemente tentou se adequar ao mundo moderno alterando alguns aspectos perceptíveis durante sua exibição diária. Algumas mudanças foram que os apresentadores passaram a não ficar todo o tempo atrás da bancada, agora levantando em alguns momentos, bem como o surgimento de uma maior interação entre os próprios apresentadores, além da mudança evidente de cenário.

Ao mesmo tempo em que ocorrem essas transformações, os novos programas que surgem em meio ao século XXI, recorrem a recursos mais atuais e com novas propostas, como é o caso do programa matinal Café com Jornal, transmitido pela Rede Bandeirantes de Televisão. Apresentado por Luiz Megale, renomado jornalista que comanda o jornal desde sua estreia, em maio de 2014, e a recente escalada, Júlia Duailibi, o programa promove uma mistura entre o rádio e a televisão, modelo nitidamente diferente dos concorrentes do horário da manhã.

Ao sintonizar no canal Bandeirantes pela manhã, o espectador movido pela aparência do programa, pode sentir que ele possui as mesmas características que são exaustivamente vistas nos demais, mas analisando mais a fundo, não é bem assim. Apesar da presença da bancada, que se difere dos outros jornais ao se assemelhar com uma mesa de café da manhã, do cenário com fundo para a redação, do foco de matérias e da linguagem ser relativamente igual, o Café com Jornal aposta em entradas ao vivo com a rádio Band News FM. Esse é um grande diferencial dentro dessa nova era tecnológica e de inovações no campo da comunicação.

Em determinado momento, com a entrada ao vivo do jornalista Ricardo Boechat, também apresentador do noturno Jornal da Band, diretamente da Rádio Band News FM, a figura do conhecido comunicador ganha foco e, as opiniões, que anteriormente eram apenas ouvidas por aqueles que estavam conectados à rádio, passam a ter a possibilidade de visualização também através da televisão, com a transmissão de alguns trechos dos comentários de Boechat.

Vestido como se estivesse em algum dia comum, Boechat dispensa o uso do terno e, frequentemente durante sua fala, faz uso de jargões e palavras que são comumente utilizada no cotidiano. Visivelmente, o jornalista adota uma postura diferente daquela que será vista ao final do dia no principal jornal da emissora, e inclusive, aborda suas opiniões de maneira mais incisiva e posicionada.

Apostando em uma linguagem popular, assim como em todos os outros matinais, o principal objetivo das matérias é transmitir a situação da cidade para o trabalhador. Com duração de três horas (6h às 9h), por vezes os assuntos se tornam inclusive repetitivos devido à extensão do programa e preocupação de focalizar apenas nas notícias da cidade de São Paulo. Apenas durante a última hora há reportagens de âmbito nacional.

Os principais assuntos giram portanto, em torno da situação do metrô e trens da CPTM, coleta de lixo, infraestrutura da cidade, entre outros temas pertinentes e úteis ao telespectador. Durante o programa, alguns comentaristas de editorias específicas, como é o caso de Roseli Sayão (educação dos filhos) e Camila Hirsch (bem estar), acabam entrando na transmissão com o objetivo de incentivar um clima de pausa e a variação de assuntos.

Apesar de algumas críticas direcionadas à repetição de assunto, o diretor-geral de conteúdo da transmissora, André Luiz Costa, em entrevista ao Portal Notícias da TV, diz que tudo não passa de estratégia de audiência : “A gente parte do princípio que ninguém passa três horas assistindo ao jornal. Tem a ver com a estratégia de audiência. Tem uma similaridade com o rádio e estamos pesquisando a média de permanência do telespectador”, afirma.

Inseridos em uma cadeia global de informação, é certo que há décadas se visualiza e planeja maneiras de criar um modelo de jornalismo que se adapte a rapidez e instantaneidade do mundo atual. Nessa tentativa, foram adaptadas as redações, as funções e as habilidades das quais um jornalista profissional precisa possuir. Outras ideias foram criadas, e os programas tentam encontrar maneiras de atrair um público que se torna cada vez mais disperso.

Nesse cenário, assim como tantos outros exemplos do audiovisual, rádio e redações impressas, o programa Café com Jornal foi criado em 2014 com a intenção de se diferenciar dos concorrentes de horário e serviu como experimento pela incessante busca do novo jornalismo. A corrente de discussão, linguagem coloquial, acesso aos assuntos muitas vezes populares e cenário diferenciado, atraíram um público que busca e se identifica com um padrão mais dinâmico de notícia.

E apesar de serem verdadeiras as novidades implementadas, ainda assim, nem mesmo um jornal com a proposta de inovação, cumpriu seu objetivo de criação: ser afinal, inovador. A mistura da televisão com a notícia do rádio, a entrada de comentaristas e de Ricardo Boechat a partir das sete e meia da manhã não foram tentativas frustradas, pois são exatamente essas características que fazem deste presente trabalho material de estudo, mas ainda sim não cumpre seu propósito.

Quem assiste consegue ver um Boechat que não aparece no jornal da Band. Como de costume, ele consegue aparecer mais em suas opiniões na rádio, e faz consequentemente com que o programa televisivo tenha seu auge com sua aparição. A linguagem e conteúdo de reportagem se distinguem ao tentar implementar temas populares, mas ainda sim, mesmo em suas diferentes características, não consegue ser a resposta para o novo jornalismo moderno e se aproxima em muitos pontos ao concorrente matinal apresentado por Rodrigo Bocardi na Rede Globo de Televisão.

Referências Bibliográficas:

PEREIRA, Fábio Henrique; ADGHIRNI, Zélia Leal. O Jornalismo em tempos de mudanças estruturais, Brasília , p. 39–43, 2011.

PORTAL TV FOCO. Dica de Leitura. Disponível em:<http://www.otvfoco.com.br/band-promove-mudancas-no-cafe-com-jornal/>. Acesso em: 24 de mar. 2018

PORTAL UOL. Dica de Leitura. Disponível em:<https://tvefamosos.uol.com.br/colunas/flavio-ricco/2017/08/07/cafe-com-jornal-muda-e-ganha-nova-apresentadora-julia-duailibi.htm>. Acesso em: 24 de mar. 2018

PORTAL UOL. Dica de Leitura. Disponível em:<http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/opiniao/matinal-da-band-mistura-radio-com-jornal-de-rua-mas-repete-muito-3493>. Acesso em: 24 de mar. 2018

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