Censurar ou transformar a verdade não agradável
Bolsonaro transforma fato em fake aos apoiadores, ofende jornalistas e censura notícias
Por Carina Gonçalves
N a quadrinha de festa junina, os convidados seguem uma trilha perigosa para chegar no final, com cobras e buracos, precisando dar meia volta por segurança. Alguns chegam a ser mentira, e o caminho segue o planejado. Essa brincadeira inocente está presente na política brasileira atual: o presidente Jair Bolsonaro diz diversas mentiras à população para contrariar a verdade ruim a seu respeito trazida pelos jornais e tenta desviar o caminho correto para aquele mais agradável a seu respeito. Seus apoiadores o seguem para as cobras e buracos, outros acreditam nos fatos.
O primeiro acontecimento a ser destacado foi a não preocupação do atual presidente com a covid-19, a qual repercutiu no seu pronunciamento em rede nacional, na televisão, no dia 24 de março de 2020, que, de acordo com o portal Correio do Estado, foi assim: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar” e diminuiu o vírus ao chamá-lo de “gripezinha ou resfriadinho”.
Sobre esse mesmo discurso, o jornal Folha de S.Paulo reportou que o presidente mencionou a cloroquina/hidroxicloroquina para tratar casos do novo coronavírus. Assim como o ex-presidente norte-americano Donald Trump, ele incentivou o uso do medicamento, mesmo este não tendo eficácia comprovada contra a covid e normalmente usado no tratamento de malária, artrite e lúpus.
Durante toda a pandemia, entre 2020 e 2021, ele evitou usar máscara, incentivou eventos aglomerados de apoiadores (contraindicações da OMS — Organização Mundial da Saúde) e menosprezou a doença que já matou mais de 680 mil pessoas no país. Apesar da mídia mostrar profissionais da saúde trabalhando sem parar, a tristeza de familiares e amigos, falta de oxigênio em Manaus e os avanços da vacina, o representante eleito do povo estava liderando motociatas e não o restabelecimento da ordem e progresso do país.
Se não bastasse contrariar os especialistas, Bolsonaro afirmou: “Eu não vou tomar vacina e ponto final, problema meu”. Para ele, quem aplicar o imunizante vira “jacaré”, o que virou meme em todo o país, e seus apoiadores acreditando nas palavras de seu líder decidiram continuar ocupando alas nos hospitais, ignorando os calendários de vacinação tão divulgados na mídia.
Além de espalhar mentiras, o presidente brasileiro também tem o costume de atacar jornalistas mulheres. Uma vítima foi a Patrícia Campos Mello, que publicou artigos divulgando a rede de fake news bolsonarista pelo WhatsApp nas eleições de 2018. Ele e seus filhos lhe fizeram ameaças e a ofenderam por toda a internet. Outras profissionais, como Vera Magalhães e Miriam Leitão, também sofreram ataques.
Apesar das tentativas do presidente em descredibilizar a mídia e jornalistas mulheres dando a sua visão de verdade, a sua máscara cai a cada notícia que vai ao ar. Inclusive com a última tentativa fracassada de censurar a reportagem do UOL sobre o pagamento de imóveis pela família Bolsonaro em dinheiro vivo. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, barrou a liminar de censura.