Cobertura da pandemia: análise de veículos jornalísticos

Grandes portais de notícias brasileiros apresentam diferenças na forma de publicar notícias sobre a onda global de covid-19

Caio Vasconcelos
singular&plural
3 min readApr 1, 2022

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Por Caio Vasconcelos

O coronavírus ainda é o assunto principal da vida das pessoas. Mesmo que tentemos fugir, uma hora ou outra iremos ouvir, ler ou consumir algo relacionado à pandemia. E é exatamente por esse motivo que o jornalismo tem sido tão importante durante este período de trevas. Se não fossem os jornais, revistas e portais de notícias, não teríamos o conhecimento necessário para manter o mínimo de controle emocional, principalmente com restrições severas que incluímos no nosso dia a dia. Porém, será que alguns dos principais veículos estão cumprindo com os valores profissionais jornalísticos?

Analisei três sites de notícias brasileiros famosos que apresentam abordagens diferentes: Folha de S.Paulo, Estadão e Jovem Pan. Apesar de diretamente o tema “coronavírus” ser do setor da saúde, sabemos que a política impacta de forma relevante em todas as opiniões e ações dos cidadãos, e não seria diferente na imprensa. Portanto, vou falar primeiro do Editorial (setor que exprime a opinião e a forma de pensar) desses veículos.

Os veículos jornalísticos são fundamentais na pandemia. Crédito: Thomas Charters (Unsplash)

A Folha de S.Paulo, atualmente, possui um editorial politicamente voltado para a centro-esquerda. Nele, vemos algumas matérias vinculadas à defesa de governos esquerdistas, como do ex-presidente do Equador, mas principalmente diversas críticas ao Bolsonaro. Inclusive, até as opiniões sobre a covid-19 fazem alusões negativas ao atual governo federal. O Estadão, um jornal de centro-direita, com um pouco menos de ataques, também faz críticas ao presidente da República. É absolutamente normal esse tipo de posicionamento, afinal, vivemos um momento horrível da pandemia e por muito tempo Jair Messias Bolsonaro demonstrou não se importar.

O portal Jovem Pan, ao contrário dos outros veículos, parece não estar tão preocupado com a pandemia. Na verdade, sendo uma imprensa mais conservadora, não acha favorável manifestar publicamente o descaso do presidente com o coronavírus, já que mostrou apoio a ele diversas vezes. A mais recente postagem editorial do site é sobre o STF e o caso da soltura do Lula mas, antes disso, as publicações são todas de 2017. Acredito que, além da omissão de um assunto atual (covid-19), a Jovem Pan, de certa forma, esconde a verdade, o que mostra opiniões fracas de maneira geral. Até mesmo na seção “Os Pingos nos Is”, que é atualizada, não é falado sobre a pandemia e as falhas do governo federal.

Quando analisamos o setor destinado à pandemia, a Folha de S.Paulo é a única que o expõe na página principal. Estadão e Jovem Pan deixam escondido em abas secundárias. Porém, ao entrarmos na editoria, a Folha se mostra muito negativa na cobertura do vírus, beirando o sensacionalismo. Tanto o Estadão quanto a Jovem Pan são mais equilibradas, publicando tanto notícias boas quanto ruins. Um ponto importante que notei é que apenas o Estadão disponibiliza informações explicativas sobre a covid-19, seja em relação à prevenção ou à forma como a doença age.

Os três sites possuem compromisso com a verdade. As notícias são verdadeiras, apesar da omissão da Jovem Pan no editorial. Inclusive, na área de coronavírus, o site publicou textos negativos sobre Bolsonaro. O único fator que me incomoda na Jovem Pan é a falta de contraponto nas notícias boas. Pode parecer besteira, mas falar sobre a diminuição da lotação nos hospitais sem um adendo convence as pessoas que as coisas estão muito melhores, mas na verdade é só algo bom em meio ao caos. A mesma notícia na Folha de S.Paulo foi dada de forma mais cautelosa.

Como podemos ver, a abordagem de temas polêmicos é feita de forma diferente de acordo com o posicionamento político dos veículos. A liberdade é algo valoroso e deve ser preservada mas, quando ela atravessa a barreira da ética e da verdade, passa a ser um problema para a população. Então, quando o assunto é coronavírus, não sou a favor da omissão da Jovem Pan e nem ao sensacionalismo da Folha, prefiro a coesão e imparcialidade do Estadão.

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