Como o jornalismo influencia a opinião geral sobre os treinadores no futebol brasileiro

Técnicos de futebol no Brasil sofrem pressão constante. Qual o impacto do jornalismo esportivo nessa tendência?

Caio Borges
singular&plural
3 min readNov 25, 2020

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Por Caio Borges e Samuel Soares

Foto: Reprodução/Twitter/YouTimão

Se dentro da política o jornalismo recebe a alcunha de “O 4º poder da sociedade”, devido ao seu histórico de influenciar a opinião pública e derrubar grandes líderes, com a mídia esportiva isso não é diferente.

O futebol é indiscutivelmente o esporte mais popular do país. Por isso, há uma variedade de veículos midiáticos para cobrirem o tema, levando informações aos brasileiros. Assim, essas mídias possuem um alcance gigantesco. Ao observar o Twitter de alguns dos principais jornais de esportes no Brasil, como ESPN, Esporte Interativo e Fox Sports, nota-se que todos possuem mais de dois milhões de seguidores.

É inegável a necessidade de uma abrangência de veículos no país que consigam cobrir a grande demanda do público. No entanto, é também indiscutível a influência que essas mídias exercem sobre a sua audiência, o que pode afetar a gestão de determinados clubes.

A título de exemplo, o Campeonato Brasileiro 2020 estreou no dia oito de agosto, por conta da pandemia. Desde o início do torneio até então, 11 treinadores já foram demitidos de seus clubes. Dentre os fatores responsáveis por essas demissões, a pressão por resultados é um dos que mais se destacam. O treinador do São Paulo FC, Fernando Diniz, em entrevista ao programa Bem Amigos, do SporTV, comentou sobre essa cobrança: “o julgamento que se faz e todo mundo faz é que em seis dias aquilo que era bom deixa de ser bom”, expressou.

Sendo assim, qual o papel da mídia e do jornalismo esportivo para contribuir com essa pressão que acaba influenciando diretamente no emprego de treinadores dentro do futebol?

Por conta de lidar com a paixão dos torcedores, muitas vezes as publicações de veículos esportivos são feitas para gerar engajamento. Não é incomum observar postagens em redes sociais voltadas mais para comentários e discussões entre os usuários do que visando transmitir informações.

Foto: Reprodução/Twitter/Fox Sports

Com isso, observa-se uma tendência dentro do jornalismo esportivo de influenciar e ser influenciado por seu público. Portanto, se determinado time não está indo bem, as notícias e publicações em redes sociais normalmente reforçam pensamentos já discutidos entre os torcedores, o que, por consequência, atinge diretamente os clubes. Isso porque a torcida começa a cobrar os dirigentes, e os próprios jornalistas também direcionam suas entrevistas para essas questões.

Ainda sobre essa interferência do jornalismo esportivo, é possível verificar um exemplo que segue a mesma linha de pensamento. A interação da página em questão abaixo levanta a opinião geral do público por meio de uma enquete. Mas qual influência isso pode ter? Já que se trata de um dos principais veículos informativos do jornalismo esportivo.

Foto: Reprodução/GE

A ideia de fazer um levantamento e compreender a opinião pública, expondo o resultado da pesquisa em seguida é interessante ao se pensar no engajamento e na discussão que se pode gerar. Mas é importante levar em consideração que trata-se do mesmo espaço onde o jornalismo esportivo é atuante em todas as suas nuances: de trazer furos, investigações e questionamentos. Dessa forma, a opinião popular acaba ganhando uma credibilidade maior. Isso faz com que os dirigentes dos clubes, por exemplo, revejam suas escolhas ou então desistam de tomar determinadas atitudes por medo de não agradarem os torcedores.

Por fim, o jornalismo esportivo carrega também, seja no rádio, impresso ou TV, as características que precisam ser claras aos leitores e espectadores. Existe opinião e existe informação. O perigo está onde elas se misturam; a responsabilidade não está apenas no momento de passar uma informação correta e apurada, mas também de entender o seu papel como formador de opinião.

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