Como os EUA e a mídia diferenciam os ataques recentes

Salgueiro Júnior
singular&plural
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2 min readNov 8, 2017

por Edilson Salgueiro Júnior e Marina Milhomem

2017. Outubro. Las Vegas, 59 pessoas mortas e quase 500 feridas. Nova York, oito pessoas mortas e quase 20 feridas. Duas tragédias. Mas há dois pesos e duas medidas no tratamento da mídia e no discurso do presidente dos Estados Unidos. Ao fazer uma busca no Google com o termo “las vegas attack”, duas notícias saltam aos olhos por aparecerem em destaque no topo da página. Uma delas traz a imagem de Stephen Paddock, o atirador, de olhos fechados, e um título com a afirmação de que o americano estava com problemas financeiros antes do ataque. A outra contém uma fotografia de um Paddock sorridente e a informação de que sua família enfrentava uma batalha (essa foi a palavra usada) por conta de problemas mentais e legais.

O termo “new york attack”, por sua vez, difere no que traz com destaque. Não há menções ao homem suspeito de causar os atropelamentos, identificado como o imigrante do Uzbequistão Sayfullo Saipov, mas uma notícia sobre o funeral das vítimas argentinas e um outro artigo da CNN que traz questionamentos sobre o tema tratado aqui. A indagação feita pelo veículo é a seguinte: o ataque de Nova York foi chamado de terrorismo, o de Las Vegas não. Por quê?

A resposta está diretamente associada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ao espaço que a mídia dá para determinadas indagações. Há, no entanto, veículos que buscam uma análise para explicar o caso. Em novembro, após os dois ataques, a revista TIME publicou na internet um artigo que compara reações de Trump no Twitter. Cinco horas após o ataque de Las Vegas, o presidente mandou um recado caloroso para as vítimas e famílias, mas não citou o atirador. “God bless you!”. Enquanto, após os atropelamentos de Nova York, mandou um claro recado. “NOT IN THE U.S.A.!”. Além de usar as palavras ‘doente’ e ‘desequilibrado’ para adereçar o suspeito. Outros três tweets foram postados subsequentemente, mostrando a ira de Trump.

Na mídia, fica claro o tratamento dado ao americano e ao imigrante. Paddock possui família, problemas, contas não pagas. Saipov é um cavaleiro do Isis. Ter informações equilibradas requer do leitor uma leitura que pula os primeiros resultados da pesquisa, aqueles chamados de “top stories” e que pouco esclarecem. Nos Estados Unidos, a palavra terrorismo virou um sinônimo reducionista de ações cometidas por imigrantes, principalmente os que possuem uma longa barba e curvam-se para Alá.

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