Compromisso com os direitos trabalhistas

Marcela Del Nero Paulino
singular&plural
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3 min readSep 21, 2018

Por Marcela Del Nero e Tawane Barbosa

Fotografia por Studio Republic em Unsplash

No dia 6 de agosto deste ano, 1500 funcionários do Grupo Abril perderam seus trabalhos e desde então lutam para que seus direitos sejam cumpridos pelos herdeiros da família Civita, fundadora da instituição, que se recusam a pagar os salários dos funcionários demitidos.

Em uma nova tentativa, o Comitê dos Jornalistas Demitidos redigiu uma carta aberta à família Civita apontando todos os motivos e justificativas para que haja o pagamento das dívidas. A linguagem utilizada pelo Comitê no início da carta é emocional e lista situações onde os funcionários demitidos estão sendo prejudicados e encontramos necessidades básicas de um ser humano entre elas. O tom de desespero pode ser ainda mais notado no segundo parágrafo: “O abatimento emocional e moral já produz depressão, desesperança e sérias dificuldades na vida cotidiana.”

A crítica ao Grupo Abril é constante no decorrer do texto e a linguagem emocional continua, porém com um tom diferente. A agressividade é clara quando falam sobre a relação dos jornalistas para com os leitores brasileiros, mencionando o distanciamento da Abril com o povo, e a imensa perda que a população enfrentará sem os 11 títulos cortados.

Durante o parágrafo em que mencionam outras profissões que foram afetadas, há o diálogo com aqueles que nem trabalhavam lá mas que se solidarizaram com a situação absurda em que se encontravam os jornalistas demitidos. Assim como os futuros jornalistas que vêem, o que um dia foi o sonho de alguns, ir por água abaixo.

Muito se falou desse caso nas redes sociais, havendo uma conversa entre aqueles que sobreviveram, quem foi demitido, quem estava querendo entender o por quê aconteceu, entre outros. A força do movimento do Comitê dos Jornalistas Demitidos teve influência dos debates em grupos e publicações online.

“O rombo é mais fundo. Nesse episódio, há também prejuízo para a liberdade de expressão, a denúncia, a crítica. Perde, enfim, a defesa da democracia.” Esse trecho traduz toda frustração dos funcionários que perderam tanto seu emprego quanto seus direitos e que viram a ruína do Grupo Abril diante dos seus olhos enquanto ainda estavam por lá.

Já no sexto parágrafo, o tom predominante utilizado é de indignação e de comoção. Nesse parágrafo são ressaltadas as dívidas do Grupo com os funcionários, momento em que se colocam como vítimas da má gestão dos herdeiros do grupo, apelando, novamente, para o lado emocional “Nossa única fonte de sobrevivência é o salário que vem, exclusivamente, do trabalho árduo que entregamos. A dívida que os Civita têm com a massa de profissionais jogados na rua é de 110 milhões de reais”.

O texto segue com o tom de acusação e injustiça predominantes no momento em que mencionam que aquelas pessoas que foram demitidas e foram prejudicadas, contribuíram para o enriquecimento da família Civita, que “reconhecidamente, têm uma das maiores fortunas do Brasil”. No mesmo parágrafo, a legislação é citada, pedindo seus direitos e até citando o artigo 477 da CLT. Partindo para um tom mais agressivo, porém embasado.

Nos últimos parágrafos o tom utilizado ainda é o de indignação, pois continua a citar a fortuna da família e ainda compara que a dívida com os trabalhadores corresponde apenas 1% da mesma. No fechamento da carta, o tom é emocional e apelativo. “Nossa “esperança” é a de que os senhores, herdeiros, honrem os seus compromissos com os demitidos. Façam valer o tanto que a família Civita acumulou em décadas com o nosso trabalho. E respeitem as nossas famílias”, esse final expressa que os trabalhadores acreditam que terão seus direitos garantidos.

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