Conclusões precipitadas

Consequências que imparcialidade e sensacionalismo podem ter na sociedade são maiores do que se imagina

Arnaldo Dib Filho
singular&plural
3 min readMay 30, 2022

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Por Arnaldo Dib e Lucca Rédua

Pixabay Licence — Atribuição não requerida

As matérias tendenciosas para atrair mais cliques e audiência para o seu veículo jornalístico estão sendo cada vez mais comuns. Os jornalistas que não respeitam a profissão e seus princípios fazem uso do sensacionalismo, para que os leitores se interessem em ler sua matéria, mesmo que a notícia, sem o uso de exagero, não atraia a atenção, como neste exemplo do caso da Juliette com a Samantha.

É nítido o abuso do sensacionalismo nesta matéria do site de notícias “O Liberal”, já pelo título: “Juliette é vista chorando após deboche de Samantha Schmutz”. O que dá a entender ao seu público que, devido à critica da atriz, a cantora e ex-BBB estaria chorando, sendo que ela não concedeu entrevista alguma falando sobre o assunto e nenhuma pessoa próxima comentou sobre. Ou seja, o portal fez uma dedução e adotou isso como verdade.

Ao fazer uma análise de problemáticas, fica explícita a formação discursiva que pende para um dos lados na “polêmica”. Partindo do pressuposto de que a artista Juliette não se pronunciou sobre o choro e que poderia estar emocionada por diversos motivos, inclusive tinha acabado de sair de um programa onde ficou emocionada por conta de um discurso, assume-se que o jornal não se baseia em fatos, “surfa na onda” da polêmica que rende views e cliques na internet.

Deduções no meio jornalístico só são bem-vindas caso o autor do texto mostre claramente que é apenas um ‘achismo’, não adotando como verdade absoluta. Para não fazer do artigo mais um produto tendencioso e sem embasamento, buscamos alguns exemplos presentes na matéria. “Em sua participação no programa TVZ, do Multishow na segunda-feira (16), ela falou sobre o seu novo videoclipe ‘Cansar de Dançar’, e disse o que pareceu uma alfinetada em Schmütz”. Essa frase demonstra o despreparo do portal de notícias, exibindo fatos baseados apenas em ‘achismo’, mostrando a falta de confiabilidade no veículo.

Já neste exemplo, “Essa música fala de empoderamento, julgamento (neste momento ela pisca e dá a entender que se refere ao comentário da atriz) e é dançante”, justificar uma crítica em uma fala referente a um lançamento de música a priori da polêmica mostra a falta de compromisso ao código de ética dos jornalistas brasileiros, e também demonstra descaso ao seu público, que depois de ler a matéria irá tirar suas conclusões sobre o caso, mas como a matéria está tendenciosa o povo não terá a chance de analisar corretamente.

Portanto, ao abrir mão de conceitos básicos jornalísticos, como confiabilidade, imparcialidade e apuração dos fatos — em prol de audiência — , ou nesse caso, acessos, torna-se falta de ética por parte do meio jornalístico postar um texto como esse. Ao publicar uma notícia como essa em um canal que tem uma base de consumidores e pode influenciar pessoas, falha com a responsabilidade coletiva, que vem junto com a profissão de jornalista, sendo que, na teoria, temos o dever de sempre buscar noticiar a verdade e não influenciar com as notícias, deixar com que os leitores tomem suas próprias conclusões com a constatação dos fatos.

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