Contra a elite rural

Victória Navarro
singular&plural
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3 min readSep 18, 2017

Por Marcela Sanches e Victória Navarro

Pluralismo é um sistema político baseado na coexistência de agrupamentos ou de organismos dessemelhantes e autônomos, em matéria de administração ou de representação. Pelo menos está é a conclusão do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, que também traz definições mais simples a palavra como multiplicidade e doutrina filosófica que não admite senão seres múltiplos e individuais. Seja lá qual significado adotar, cabe a você, caro leitor, escolher ser pluralista ou não. Assim como cabe aos veículos midiáticos a tomarem a mesma decisão: o jornal Folha de São Paulo, claramente, fez a sua.

Foto: reprodução

Estabelecida por um grupo de jornalistas conduzido por Pedro Cunha e Olival Costa, a Folha surgiu em 1921. Já consolidado no mercado e um dos nomes mais conhecidos do ramo jornalístico, este publisher não está livre de erros e críticas. Além de ser vespertino inicialmente, os textos eram mais curtos e claros, ou seja, assumiam um caráter bem mais noticioso do que opinativo. Competidor direto de O Estado de São Paulo e das elites rurais, o jornal vingou na sociedade paulista. Porém, com a existência das colunas fixas, as opiniões políticas passaram a ser tão fortes que lhe deu a competência de um jornal de direita. Logo, com pouquíssimo espaço para quem não lhe convém e com reduzido ambiente para a prática do pluralismo.

Disto tudo, uma coisa é certa: o período político e econômico brasileiro — repleto de escândalos, corrupção e desvalorização do dinheiro público — desmotivou a esperança do brasileiro por uma mudança positiva. Em meio a questionamentos da população, será ainda responsabilidade da Folha de São Paulo — como um dos maiores jornais do Brasil — informar objetivamente, imparcialmente e factualmente assuntos de interesses do público? Sabe-se que veículos de comunicação seguem linhas editoriais propostos pelos seus donos. Mas, quão afundo estas pessoas conhecem os valores éticos do jornalismo?

Quando se trata de defender um lado do fato é necessário tomar cuidado com a apuração dos acontecimentos, etapa crucial no exercício de um jornalista. Isto inclui desde entrevistar diversas fontes, ir atrás de documentos até visitar o lugar dos episódios. Entretanto, o problema de uma matéria “bem apurada” começa a partir do momento que a checagem dos fatos confunde-se com a opinião de quem a escreve.

No jornalismo contemporâneo, o leitor é o último a receber o produto, então antes dele há muitos processos e filtros que acabam direcionando a notícia para algum ponto de vista. Essa artimanha pode ser imperceptível aos olhos de quem não possui uma leitura crítica, mas para quem consegue observar, esses caminhos são traçados desde a estrutura do texto, a linguagem e até mudanças de contexto.

O pluralismo cerca o ser humano de liberdade, justiça, igualdade, segurança, bem-estar e desenvolvimento. Porém, como se vive em sociedade é impossível misturar as características de uns com os outros, pode-se apenas encontrar semelhantes. Mas, muito mais do que só características, a divergência de ideias ainda causa muitos debates, na sociedade contemporânea. O leitor precisa determinar o veículo de comunicação que será fiel e que se encaixa mais com o seu perfil.

Para os brasileiros já desacreditados, esse jornalismo ético e imparcial nunca existiu e nunca vai existir. Assim como acontece frequentemente na política do País, o poder é sedutor e o abuso dele é considerado normal. Nem no jornalismo e nem nos assuntos políticos isso deve ser aceito, por mais que muito praticado. Mascarar interesses pessoais por trás de um veículo de grande alcance ou por trás de um partido é crime.

A mídia brasileira cresceu informando e atualizando a população, mas também ganhou forcas onde não se tem leis rígidas o suficiente para penalizar e conscientizar quem tenta manipular informações. Deveria ser abolido do vocabulário dos jornalistas a sentença “agrade seu chefe e assim você terá algumas conquistas”. Por que não usar “informe o cidadão e faça-o se sentir agradável e mais consciente com aquela informação”?

Mas, preste atenção! Não significa que todo jornal não é pluralista. Contudo, que a Folha de São Paulo, infelizmente, não se enquadra nesta categoria. Uma vez que deixa de lado, escancaradamente, a esquerda política. Vale ressaltar que dar a voz para mais de um lado nas matérias factuais não é o problema da Folha, mas sim a escassez de colunistas com outras visões de mundo.

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