Criança não é mãe, estuprador não é pai e jornalismo não é isento

Criança de 11 anos descobre gestação em decorrência de um estupro, mas é impedida de fazer aborto. É possível ser ‘neutro’ diante disso?

DundleSouza
singular&plural
3 min readJun 22, 2022

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Por Maria Eduarda Souza

No começo do ano, uma menina de apenas 11 anos foi vítima de estupro. Se isso já não fosse sofrimento suficiente, de quebra, a jovem descobriu que o crime ainda gerou uma gravidez indesejada de 22 semanas. A menina recebeu a notícia ao ser encaminhada para um hospital de Florianópolis, onde teve o procedimento para interromper a gestação negado.

Apesar da legislação brasileira permitir o aborto em casos de risco de morte, gravidez por estupro ou anencefalia do feto, a criança teve seu processo negado pelo fato de a lesgilação só realizar a interrupção com até 20 semanas de gravidez.

Na última terça-feira, dia 21/6, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) determinou que a vítima poderia voltar a morar com sua mãe, já que, além de tudo, elas haviam sido afastadas pelo juízo de primeira instância. A juíza Joana Ribeiro Zimmer, autora da decisão que negou o aborto à vítima e separou mãe e filha, deixou o caso. Segundo oTribunal de Justiça, por conta de uma promoção “por merecimento”. Apesar disso e por conta da decisão de Joana, diversos protestos foram feitos nas mídias sociais na tarde de terça-feira (21) apelando para que a criança pudesse sim fazer o aborto mesmo já tendo se passado as 20 semanas ditadas pela legislação.

Juíza Joana Ribeiro Zimmer, de Santa Catarina — Foto: Solon Soares/Agência ALESC

A mídia vem fazendo uma cobertura intensa sobre os acontecimentos, mas algo que pode ser observado nas principais matérias, de forma geral, foi o grande foco na situação em si. Embora tenha ocorrido esse destaque em comum, e não tinha como ser diferente, os veículos jornalísticos fizeram recortes diferentes da situação, dando mais ênfase para uma perspectiva ou outra.

Para analisarmos essa diferença no enfoque, podemos pegar como exemplo duas matérias. A primeira, do G1, traz o contexto geral do caso, explicando a legislação, os acontecimentos e os motivos de o aborto ter sido negado. Além disso, a matéria traz também os posicionamentos do hospital, das defensorias públicas e de especialistas.

A matéria do R7, por outro lado, contextualiza o caso de maneira similar ao G1, porém, ao invés de trazer posicionamentos, a matéria trouxe mais informações sobre a promoção recebida pela juíza e, ainda mais, detalha como foram as conversas entre a juíza Joana e a vítima, quando Joana ainda chega a questionar se a criança gostaria de escolher o nome do bebê.

Em duas matérias sobre o mesmo assunto e tema, vemos como podem ser diferentes as abordagens, tendo em vista que uma matéria apenas traz posicionamentos e o contexto por trás, enquanto a outra evidencia ainda mais alguns absurdos e entra mais a fundo no caso, trazendo trechos e conversas entre vítima, juíza e promotoria.

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