De acordo com a mídia, governo brasileiro e meio ambiente vivem relação turbulenta

Meios de comunicações brasileiros apontam as mazelas do governo Bolsonaro em relação ao ecossistema do país, gerando uma crise ambiental

Pedro Carrijo
singular&plural
4 min readJun 13, 2021

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Por Luiz Baptista, Pedro Carrijo e Victor Piton

Hoje em dia é praticamente impossível desconsiderar os efeitos que os conteúdos midiáticos exercem sobre nós. Os acontecimentos chegam cada vez com mais facilidade aos nossos olhos e ouvidos, provenientes dos mais diferentes veículos de comunicação. Vivenciamos o que o sociólogo Manuel Castells (1999) chama de Sociedade em Rede, marcada pela expansão da internet e pelo acesso crescente ao conhecimento e à informação. A partir disso, diversos temas vêm se tornando cada vez mais relevantes, com destaque especial para o meio ambiente.

Assuntos como degradação dos ecossistemas, poluição, alterações climáticas, catástrofes e crimes ambientais passaram a ser regularmente veiculados pela mídia brasileira, especialmente quando se fala em relação ao atual governo do país.

A Floresta Amazônica representa mais da metade das florestas tropicais do planeta/Foto por: Nell Palmer

No início do governo Bolsonaro, a reestruturação de órgãos responsáveis pelo processo de implementação das políticas ambientais no país diminuiu a capacidade do ministério de formular e conduzir políticas ambientais, fazendo com que o Departamento de Educação Ambiental não exista mais e a função executiva do Departamento de Desenvolvimento Sustentável fosse retirada.

Isso já foi o bastante para a mídia abrir os olhos para esse cenário e começar a apontar e acompanhar de perto cada fato ou polêmicas com que o governo se envolvia.

Em 2020, um ano marcado na mídia pelo aumento do desmatamento, pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal e pela frequente pressão internacional sobre o país, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria sobre as viagens feitas pelo atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com a manchete “Salles passa 4 vezes mais dias de trabalho em SP do que no Pantanal e na Amazônia”.

Na reportagem, os jornalistas Renato Machado e Danielle Brant apresentam dados sobre a quantidade de vezes em que Ricardo Salles visitou às principais regiões afetadas pelas queimadas no último ano em comparação com a quantidade de vezes em que viajou para São Paulo, estado natural do ministro. A matéria também traz críticas feitas por um deputado, Alessandro Molon (RJ), líder do PSB na Câmara dos Deputados: “A agenda de Salles é a prova objetiva do quanto despreza a Amazônia e o Pantanal.”

Dessa forma, a reportagem deixa evidente seu posicionamento sobre o ministro, onde ele não é responsável com suas obrigações, não visitando as áreas atingidas pelas catástrofes mais vezes e focando em outras viagens, passando uma imagem negativa do governo por meio apenas do seu histórico de viagens.

A incerteza da mídia sobre o meio ambiente em relação ao governo Bolsonaro é tanta que o Yahoo!Notícias manchetou “Ricardo Salles aparece na PF com assessor armado e pede informações sobre inquérito”. Ao colocar dessa forma, o autor da matéria demonstra certo sensacionalismo, uma vez que salienta o fato do ministro estar acompanhado de um militar da reserva armado para que isso traga maior destaque para a notícia. Isso também demonstra certo oportunismo da matéria do Yahoo, tendo em vista o fato de o ministro estar sendo alvo de diversas críticas e acusações nos últimos dias.

Ao ler a matéria inteira, fica claro que o fato dele estar ao lado de alguém que portava uma arma de fogo é algo totalmente desnecessário e que foge totalmente do tema principal da matéria, onde mais uma vez fica evidente que a intenção maior da notícia é trabalhar a imagem negativa que o leitor possa ter do ministro.

Em uma outra reportagem, dessa vez na UOL em colaboração para Ecoa, os jornalistas Olivier Christe e Fernanda Wenzel publicaram sobre a volta ao Brasil de um banco suíço, o UBS. A matéria já deixava clara sua perspectiva logo no título: “Maior banco suíço volta ao Brasil e coloca em risco compromisso ambiental.”

Ao longo do texto, os autores trazem diversos dados que ligam o banco à empresas e pessoas com histórico de descaso e até mesmo crimes ambientais. A relação do banco com o atual governo Bolsonaro também é citada com desconfiança: “Pode ser uma coincidência que o UBS tenha anunciado seu plano de trabalhar com o Banco do Brasil no mesmo ano em que Bolsonaro tomou posse”. Sendo que sobre a questão financeira, que é onde fica o maior interesse na volta de um banco para o Brasil, a matéria não faz questão de mencionar, apenas apontam inúmeros pontos negativos junto de uma frase solta no texto dizendo “Mas também parece fazer sentido do ponto de vista empresarial.”

Dessa forma, a mídia brasileira retrata a relação do governo Bolsonaro com o meio ambiente destacando sempre as mazelas e transmitindo a imagem que deseja para o leitor, decorrente de uma notícia que foi escrita de maneira tendenciosa e muitas vezes já logo no título, como visto acima.

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