Desemprego: a realidade do Brasil muito além dos números
Com a retomada da economia, o número de desempregados cai, mas a falsa impressão de melhora não retrata a realidade
Por Urtzi Luppi e Vitor Lupato
A Folha de S.Paulo publicou recentemente um artigo baseado nos números divulgados pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) Contínua que mostram o real cenário do desemprego no Brasil, principalmente durante o conturbado período econômico causado pela pandemia. Se analisados sozinhos, os números são animadores. Uma queda de 1,4 ponto porcentual em relação ao trimestre anterior terminado em maio, com 13,2% dos brasileiros sem emprego. Porém, o número ainda é alto e, se analisados em perspectiva, os números mostram uma realidade muito mais cruel na retomada econômica.
Dois pontos destacados pela reportagem da Folha são fundamentais para explicar ao leitor a verdade do cenário . O primeiro é a queda da renda real dos brasileiros, que recuou 10,2% em relação ao mesmo período de 2020, fechando o trimestre em R $2.489. O número representa a maior queda em porcentual da série histórica, iniciada em 2012. O segundo ponto aborda o aumento do emprego informal. No segundo trimestre de 2021, a taxa de empregados chegou a 90,2 milhões de brasileiros, mas 41,1% são informais. A modalidade não garante direitos, segurança e nem renda fixa à maioria dos trabalhadores.
A realidade se traduz em um Brasil mais pobre em relação ao começo da pandemia. Apesar de as vagas de emprego estarem aparecendo na maioria dos setores, a condição de trabalho e o salário estão longe do ideal e do que era visto no período pré-pandemia. Milhares vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza. Na cidade mais rica do país, 200 mil paulistanos cruzaram a linha da fome durante a pandemia. Assim, a Folha de S.Paulo faz um importante alerta para a população: as coisas estão melhorando, mas precisamos de muito mais.
É responsabilidade do veículo saber retratar a realidade, a verdade além de números, gráficos e estudos. A pandemia da covid-19, além de uma crise sanitária e de saúde, também está escancarando um desequilíbrio socioeconômico. Por isso, é fundamental que o jornalismo saiba a responsabilidade que tem no coletivo, que nesse caso é representado pela população brasileira. Isso deve acontecer, principalmente, quando um governo fantasioso prega um mundo perfeito, do qual nós ainda estamos longe. Os quase 14 milhões de brasileiros desempregados precisam saber a verdade, que precisa ser retratada pelos veículos de jornalismo. O peso de informar, a responsabilidade de esclarecer e a força de mudar estão atreladas à responsabilidade da profissão.
Há ressalvas, porém, na forma como a Folha coloca a situação. Apesar de entrevistas com análise de especialistas, a matéria falha em trazer de forma concreta o motivo do poder de compra do brasileiro estar em baixa. A inflação, pouco explorada pela imprensa, tem papel fundamental nesse caso. Todos os brasileiros sentem no bolso os preços subindo brutalmente desde o início da pandemia. Puxado pelos combustíveis e os alimentos, a inflação cresce ligada a diversos fatores que muitos falham ao tentar entender. Na responsabilidade coletiva da produção de informação, todos os pontos precisam estar claros para o entendimento de uma população que, em um curto período de tempo, está ficando mais pobre e fragilizada.