Discurso no Jornalismo brasileiro e a tênue linha entre falar a verdade e influenciar o público

Como o discurso da mídia brasileira pode passar de informativo a influenciador em poucos segundos

Felipe Zamboni
singular&plural
3 min readApr 7, 2022

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Por Felipe Zamboni e Gabriel Rodrigues

Falar e escrever a verdade, sendo objetivo e direto, sem a presença de julgamento próprio, são alguns dos valores e premissas básicas de qualquer jornalista ou profissional que atue nos meios de comunicação. Estas pessoas têm o importante trabalho de se comunicar a todo instante com o seu público, informando e trazendo as mais recentes novidades de temas relevantes à sociedade. Contudo, alguns valores jornalísticos têm sido questionados nos últimos tempos, e aqui traremos uma análise do porquê os valores citados acima merecem ser debatidos e esclarecidos.

A teoria jornalística diz que a objetividade deve ser algo presente nos textos e na fala de seus profissionais, uma vez que a sua missão como profissional é a de informar e elucidar o público sobre os assuntos envolvidos. Porém, na prática não funciona dessa forma. É evidente que a escolha por determinadas palavras varia de acordo com cada pessoa, já que isso está diretamente ligado à formação sócio-cultural de cada indivíduo. A questão que trataremos a seguir é quando essa escolha por determinadas palavras muda, mesmo que de forma sútil, o contexto de um tema.

Crédito: Pixbay

A esfera política nacional tem se mostrado um belo campo de amostra para essa discussão. Com a polaridade entre as ideologias de esquerda e direita no Brasil atualmente, essa dualidade também pode ser encontrada na mídia em relação às duas maiores figuras desse cenário: Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva. Em matéria publicada recentemente no site da revista Veja, encontra-se logo no início do texto um breve exemplo do que estamos abordando. “Como faz desde o início da pandemia de covid-19, Bolsonaro se isenta de responsabilidade pelas dificuldades econômicas e culpa, entre outros, os governadores e a aposta deles no 'lockdown' para conter a disseminação do vírus”. Nesse trecho, as palavras “isenta” e “culpa” realçam aos olhos de qualquer leitor, já que foram escolhidas com esse propósito.

Com o ex-presidente Lula ocorre o mesmo. Para fins de comparação, vamos analisar um trecho do mesmo portal. Ao noticiar que Lula foi fotografado com um relógio importado em um comício do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), a matéria é finalizada com a seguinte frase: “O polêmico relógio chegou a ser parcialmente encoberto em alguns posts de perfis petistas no Instagram.” Já nesse caso há a presença do termo “polêmico”, que tem como objetivo trazer um tom pejorativo ao artigo pessoal do político.

Nos dois casos, nota-se que em momento algum os jornalistas faltaram com a verdade. Contudo, determinadas palavras foram utilizadas para manifestar, de forma sútil, o que o autor do texto queria passar ao público. Existem várias maneiras de manipulação que a mídia utiliza para expor a informação de acordo com o seu viés. Nos exemplos acima, podemos perceber a presença de algumas palavras de impacto para conduzir o público a determinado pensamento. Outra forma de alcançar esse objetivo é empregar o uso de metáforas, tanto na mídia escrita quanto no campo audiovisual, o que permite um maior entendimento do público e, consequentemente, uma aceitação perante o olhar abordado pela mídia sem questionamentos.

Dessa forma, podemos concluir que o uso dessas “táticas” influenciam negativamente o público-alvo, uma vez que ele pode ser ludibriado, tornando-se uma massa de manobra, o que impede o seu desenvolvimento crítico em relação aos temas expostos.

Concluímos que a neutralidade é difícil de ser alcançada, mas deve ser um objetivo claro do jornalista. O julgamento dos fatos cabe ao leitor/telespectador e não a quem transmite a informação.

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