Efeito manada na comunicação

Roberta Tokunaga
singular&plural
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4 min readSep 21, 2018

Por Gabriela Rotella, Giovana Misson e Roberta Tokunaga

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As plataformas digitais passaram a ser um vasto ambiente de disputas de construções narrativas ideológicas durante o período eleitoral. Acredita-se que ganha essa disputa quem acumula o maior número de argumentos a favor de suas convicções. E muitas vezes, vale tudo nessa guerra.

Nem sempre a realidade é o suficiente para obter os tão desejados argumentos, é nesse momento que o ‘vale tudo’ começa. São criadas as chamadas ‘fake news’, que em português quer dizer notícias falsas, que nada mais é do que uma forma de disseminar notícias incorretas pelas redes sociais. Contudo, essa intoxicação informativa pode intimidar a democracia. O intuito é prejudicar candidatos, partidos e até ideais, e muitas vezes, o prejuízo final mal pode ser medido.

O efeito manada refere-se, originalmente, aos animais, quando se juntam para se proteger de um predador. Quando se trata de seres humanos, entende-se o efeito como aqueles que seguem um determinado influenciador e não passam por uma reflexão pessoal, sem verificação do que o foi dito, sendo induzido à manipulações, muitas vezes.

No entanto, as fakes news não são novidades no mundo. Na Idade Média, a propagação de notícias errôneas era menor pois os governos só dialogavam entre si. Mais tarde, com o desenvolvimento da impressão, a disseminação de informações passa a ser mais acessível na sociedade. Atualmente, com a globalização, as notícias se espalham com uma velocidade absurda, chegam a lugares mais distantes do que se pôde imaginar inicialmente e alcançam as mais diversas pessoas, gerando maiores possibilidades de conflitos.

O cenário perfeito para fake news se proliferarem são eleições presidenciais de 2018. A vítima de um dos casos foi Patrícia Pillar que, em meados dos anos 2000, foi casada com o candidato Ciro Gomes. A notícia falsa dizia que Patrícia havia afirmado ter sido abusada fisicamente por seu ex marido. Em um vídeo nas redes sociais, ela desmentiu o boato.

Além da rapidez da informação há outro fator determinante para as Fakes News se espalharem em maiores quantidades. Na maioria das vezes, tais notícias são proliferadas através das redes sociais e grupos de WhatsApp, que são transmitidos de grupo em grupo, sem que se tenha a preocupação de checagem, ou seja, se uma pessoa acredita, várias acreditarão. Se uma é manipulada, grande parte das pessoas que receberam, também serão, criando o efeito manada. O problema das plataformas como Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp é que não há critérios de publicações, ou seja, todos os usuários podem expressar e informar suas opiniões sobre qualquer assunto, isso pode gerar notícias falsas.

Além das questões de noticiabilidade a ética pode ser discutida em situações como esta. O intuito daqueles que escrevem sobre acontecimentos que nunca ocorreram ou destorcem um fato é simples: manipular o leitor.

A manipulação ocorre para que o leitor mude sua linha de pensamento ou defenda apenas um lado. A forma que as informações são colocadas no texto, a linguagem e as imagens também interferem na intepretação do leitor.

A grande maioria da população sabe reconhecer quando uma notícia não traz os dois lados de um fato. Porém, para que o leitor seja levado a acreditar que há imparcialidade, os textos trazem a persuasão, que nada mais é que colocar uma pequena informação sobre o assunto que não está defendendo

Outro caso de fake news bastante comentado surgiu em meio às notícias sobre a morte de Marielle e seu motorista. Segundo as mentiras, a vereadora era ex mulher do traficante Marcinho VP, que havia engravidado aos 16 anos, que era usuária de maconha e que havia sido eleita pelo Comando Vermelho. Mais uma vez, as fake news se utilizando de uma tragédia para gerar cliques.

Entretanto, a internet não é única culpada, o leitor possui uma parcela significativa da culpa. São raras as vezes em que um indivíduo pesquisa a mesma informação em diversas plataformas ou procura se aquilo é realmente verdade. Isso leva o leitor a acreditar na primeira nota que lê. Além disso, muitos internautas acabam replicando as notícias sem saber se aquilo é verídico ou não. Isso acaba se tornando um ciclo vicioso e inquebrável, pois quanto mais Fakes News compartilhamos, mais são criadas.

Ainda que exista mais desavenças nos dias atuais, também há o lado positivo de que a facilidade da divulgação de informações pode ajudar a trazer a verdade à tona. Antigamente, esclarecer boatos era algo bem mais complicado pois a informação não era alcançada por todos.

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