Em menos de 10 dias perdemos dois grandes nomes do jornalismo

Isabella Marques
singular&plural
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2 min readMay 29, 2018

Por Isabella Marques

O primeiro foi Tom Wolfe, escritor e jornalista norte-americano que morreu aos 88 anos no dia 14 de maio. Wolfe foi um dos maiores representantes do Novo Jornalismo, ao lado de nomes como Gay Talease e Truman Capote que, juntos, deram novos ares à profissão, conectando-a à literatura, dando-lhe fôlego, mais caracteres e riqueza narrativa.

A literatura de não-ficção, como é chamada, ganhou espaço nas prateleiras das livrarias e ainda hoje vem mostrando as caras, por exemplo no trabalho de Chico Felitti, que se dedicou a contar a história de Ricardo, o “Fofão da Augusta”, e Ana Luiza, a corredora Animal, nos moldes do jornalismo literário. E este é apenas um dos exemplos.

Exatamente 8 dias depois, em 22 de maio, morre Alberto Dines, em São Paulo. O jornalista carioca, dois anos mais jovem que Wolfe, deixou um legado de resistência. É comumente lembrado pela previsão do tempo do Jornal do Brasil, do qual foi editor-chefe, que refletia o momento político pós AI5, na ditadura militar: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”.

Em ocasião do golpe que depôs Salvador Allende, no Chile, arranjou mais uma vez um modo de transpor a censura, ao publicar a primeira página sem manchetes, apenas o texto corrido, sem de fato transgredir a proibição dos militares, que se referia apenas aos títulos.

O Observatório da Imprensa, projeto essencialmente de crítica de mídia, também foi ideia sua.

Em momentos em que se fala sobre (e se nota) a crise no jornalismo, esses dois senhores servem de inspiração, pois encontraram meios de continuar exercendo sua profissão, fazendo-a florescer em meio às adversidades políticas, no caso de Dines, e em relação aos métodos antiquados, no caso de Wolfe.

São duas figuras que tornaram a profissão tal como hoje a conhecemos. Claro, são muitos outros jornalistas, homens e mulheres, que poderiam ser citados aqui por feitos de igual grandeza, mas em razão de suas mortes, os dois merecem a menção.

Não é preciso muito para notar veículos de imprensa tendenciosos, guiados por interesses políticos e financeiros, ou ainda, atados ao tradicionalismo engessado. Mas esses nomes e suas carreiras nos lembram do contrário: jornalismo é oposição, é questionamento, é crítica. E é também reinvenção, criatividade e rompimento.

Alberto Dines e Tom Wolfe são prova de que, em tempos de crise, é que novas e boas coisas aparecem.

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