Espetáculos não ensaiados, mas muito bem editados

O peso da edição no reality show “A Fazenda”, conforme o posicionamento da Record TV

Maíza Costa
singular&plural
4 min readOct 12, 2020

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Por Maíza Costa, Mariana Oliveira e Natália Peixoto

Ao longo dos últimos anos os reality shows ganharam um grande aumento de visibilidade e interação nas mídias. Inicialmente, esse tipo de programação não era considerado parte da indústria cultural; pelo seu tipo de tema e linguagem abordado, muitas pessoas conservadoras consideravam esses programas “vulgares”.

O primeiro reality show gravado no Brasil foi o “No Limite”, em 2000, da TV Globo. Não demorou muito para esse tipo de filmagem virar um sucesso, principalmente entre o público mais jovem. A partir de então, a cada ano, novos realitys começaram a surgir. Foi em 2009 que a 1ª temporada de “A Fazenda” entrou no ar pela emissora Record TV. Mesmo com uma má fama, nessa época, os realitys já tinham um público alto. Alguns anos se passaram e atualmente essa é a programação com maior audiência na mídia televisiva. A repercussão em várias outras plataformas midiáticas chega a ser surreal; um bom exemplo disso é o Twitter e Instagram. Não são poupados os gastos para a execução de um reality show, pois o lucro que as emissoras recebem são compatíveis.

Contraditoriamente, os shows de realidade tem se mostrado como um produto midiático antes de qualquer compromisso com a própria realidade. Ao considerarmos um produto, é preciso levar em conta os ideais e posicionamentos da empresa que o vincula.

Fonte: Reprodução R7 / PlayPlus

A 12ª temporada do reality show “A Fazenda” teve início no dia 8 de setembro e, desde então, muitas críticas sobre a edição do programa e o corte de cenas, tidas como essenciais para o julgamento do público, surgiram. O serviço de streaming PlayPlus é por onde o pay-per-view (pagar para ver, em tradução livre) é transmitido. Por meio dessa plataforma, é prometido aos telespectadores assinantes do streaming ter acesso ao programa 24 horas por dia, sem cortes e sem edição.

A Record TV decidiu, mesmo em meio à pandemia do coronavírus, produzir mais uma temporada do reality, que consiste em confinar personalidades brasileiras esquecidas, ou não, pela mídia, em um espaço rural onde eles precisam cuidar dos animais e fazer serviços domésticos. Nesta edição, 20 participantes entraram em confinamento na sede em Itapecerica da Serra, no interior paulista.

Na internet, não é difícil encontrar críticas à edição e cortes do reality televisionado todas as noites no canal aberto, que, segundo internautas e outros veículos de mídia, não está sendo fiel com a realidade (proposta do programa). O portal Hugo Gloss, um dos fortes sites de notícias do mundo do entretenimento, postou no Instagram a seguinte chamada no dia 20 de setembro:

ISSO A RECORD NÃO MOSTRA! Polêmica em ‘A Fazenda 12’! Na festa da última sexta-feira (18) rolou um selinho entre MC Mirella e Stéfani Bays, e também de Biel e Cartolouco. No entanto, a edição que foi ao ar não mostrou nada disso, apesar de exibir os beijos dos casais Mariano e Jakelyne Oliveira e Biel e Tays, que aconteceram no mesmo evento. Um terceiro episódio ignorado teria sido um beijo homossexual protagonizado na cama do quarto da sede. A situação deixou os fãs do reality furiosos e a Record foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter, acusada de homofobia. Vem assistir ao que o canal de Bispo Macedo não mostrou e conferir toda a repercussão[…].

Fonte: Reprodução Hugo Gloss

Outro assunto que tomou conta das redes foi a manipulação do conteúdo até mesmo no PlayPlus. Diálogos cortados e a troca de câmeras para outros ambientes deixaram claro que a empresa seleciona o que será televisionado. O portal de notícias “Observatório da TV” publicou uma matéria sobre a qualidade da transmissão. “Alguns fãs de A Fazenda 12 iniciaram uma campanha de boicote contra o Playplus, serviço de streaming da Record TV, que transmite o reality 24 horas por dia. No último domingo (13) a tag ‘Cancelem o Playplus’ entrou na lista dos assuntos mais comentados do Twitter.”

Nesse sentido, a proposta de “reality” surge como uma forma límpida de representação da verdadeira realidade, uma versão desinfetada dos problemas mundanos. Trata-se de uma construção, na qual pretende-se privilegiar a idealização e o espetáculo.

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