Exemplo do que não fazer

Como a cobertura do acidente e da morte da cantora Marília Mendonça representa um péssimo exemplo para o jornalismo

Pedro Braga
singular&plural
2 min readDec 2, 2021

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Por Guilherme Alves, Rafael Hideki e Pedro Braga

No último dia 5 de Novembro, o Brasil inteiro se comoveu com a morte de uma das artistas mais influentes da música brasileira, a cantora Marília Mendonça, de apenas 26 anos, que morreu em decorrência de um acidente aéreo na cidade de Caratinga, localizada no interior de Minas Gerais. Além da Rainha do Sertanejo, como era conhecida, estavam presentes no avião e morreram mais quatro pessoas: o piloto, o copiloto, o produtor Henrique Ribeiro e o tio e assessor da cantora Abicieli Silveira Dias Souza.

Marília usava o avião para ir a um show em Caratinga (Instagram/Reprodução)

O avião saiu de Goiânia e tinha como destino o interior mineiro no aeroporto de Ubaporanga mas, após colidir com um cabo de rede elétrica da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o bimotor modelo King Air C90 caiu. Segundo a perícia, todos os passageiros morreram logo após a queda.

O primeiro grande erro partiu da assessoria de imprensa da cantora. Assim que foram saindo as primeiras notícias do acidente, a equipe de comunicação, Textos + Ideias, publicou, de forma irresponsável, uma nota informando que todos os envolvidos no acidente passavam bem sem ter de fato a informação. A notícia, errada, se espalhou. De início, muitos fãs e familiares ficaram aliviados, mas momentos depois a informação correta foi dada: não havia sobreviventes no acidente.

O bom jornalismo deve ser informativo, assimilado, livre e as notícias devem ser escolhidas e escaladas pelos critérios de noticiabilidade. O caso atual abrangia vários deles: relevância, novidade, proximidade, notoriedade e morte. Portanto, não houve dúvidas de que o assunto do momento seria a morte de uma das maiores artistas do país, mas a maneira como foi conduzido, em alguns casos, foi infeliz.

Marília lidou grande parte da sua carreira com a estética do seu corpo, engordando e emagrecendo. Em notícias e comentários sobre a sua morte, o assunto sobre o peso e estética da cantora foi desnecessariamente falado, trazendo questionamentos de uma cobertura machista e gordofóbica. Um claro desrespeito com todo o legado musical da artista e com todos aqueles que gostavam das suas obras.

Ficou clara a falta de responsabilidade coletiva por parte da mídia nessa cobertura. Um desrespeito com os fãs e familiares da cantora que foram submetidos a comentários superficiais e ao, infelizmente, já tradicional “caça-cliques”.

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