Fake news atropelam o jornalismo

Luiza Trindade Ruiz
singular&plural
Published in
2 min readMay 29, 2018

O mesmo Whatsapp que reuniu os caminhoneiros é o que mais espalha notícias falsas

Por Luiza Trindade Ruiz

Muita coisa aconteceu ao mesmo tempo durante a última semana, e os jornais, em especial os globais, deixaram claro a excitação dos jornalistas em noticiar tantos problemas em tantos setores diferentes da sociedade. Eu acompanhei quase todo o acontecimento pela internet, mas a parte que vi na televisão, foi na Rede Globo e Globo News. Sendo assim, acredito que entendi o suficiente sobre o jornalismo feito por eles, e assim compreendi o porquê de as fake news se espalharem tão rapidamente pelas redes sociais.

Como muitos problemas afetaram o país inteiro, havia uma grande variedade de cenários, além das imagens aéreas, que também estavam sempre a postos para mostrar a manifestação em si, e os bloqueios das rodovias. Repórteres nunca antes (ou muito pouco) vistos apareciam em destaque conversando com Doni De Nuccio, ou mesmo com Fernanda Gentil, que aliás, lidou muito bem com o hard news “ao vivasso” que teve que fazer, bem diferente do usual noticiário dominical de esportes.

O ponto cômico aqui, eram os “giros” pelo país, nos quais apareciam jornalistas em algum estado do nordeste, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, e às vezes algum no Mato Grosso. Todos eles nos “Ceasas” locais, nas feiras livres, nos pontos de ônibus lotados, nas filas dos postos desabastecidos, dentro de algum supermercado, também desabastecido, e por aí vai. Havia também a que sempre estava em Brasília, e um que sempre estava sobrevoando rodovias com seu helicóptero. Uma cobertura aparentemente muito diversificada, mas que não diz nada. Inclusive, não dizer nada é o que gera revolta e extremismo, e causa situações como as vistas abaixo.

Repórter Flávia Januzzi, da TV Globo, foi hostilizada por manifestantes

Durante toda a semana essa mesma tática jornalística de giro foi repetida, e pouca informação real foi passada. A informação, no fim das contas, era de que nada mudou. Qual foi a saída? As pessoas correram para seus Whatsapps, cheios de grupos que compartilham informações muito mais interessantes (e, claro, com fontes duvidosas). Algumas das mais compartilhadas foram que o governo cortaria a internet, que o Temer mandou desligar a energia no país, e até texto fake do padre Fábio de Melo defendendo os caminhoneiros apareceu nos grupos.

Creio que o ponto aqui é: o jornalismo tradicional ainda não entendeu que estar próximo do seu leitor/espectador não é ler seus comentários na televisão, muito menos assistir aos seus vídeos (que devem ser gravados na horizontal, por favor) dizendo ‘qual país eu quero para o futuro’, isso tudo é mau uso de toda a tecnologia que temos disponível hoje em dia.

É óbvio que eu não tenho uma solução, nem para as fake news, nem para a plasticidade dos jornais brasileiros atuais. Mas sei que é muito provável que graças à falta de aproximação do jornalista e do que ele diz com seu receptor, as fake news têm parecido muito mais interessantes do que a realidade.

--

--

Luiza Trindade Ruiz
singular&plural

Jornalista, apaixonada por música, HQs, cinema, literatura, séries e tudo que envolve arte e cultura. :)