Fake news, política e democracia

Ana Clara Borges
singular&plural
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3 min readJun 21, 2018

Por Ana Clara Borges

Situações de crise são um terreno fértil para a epidemia das “fake news”, como são chamadas as notícias falsas difundidas pela rede. A prática que beneficiou Donald Trump na corrida presidencial dos EUA aparece agora, no Brasil, como um mecanismo de corrupção do debate político para as eleições de outubro.

O fim do financiamento privado das campanhas retirou dos partidos a maior fonte de renda para a propaganda eleitoral. Sem as doações de empresas e a consequente política da boa vizinhança, apenas o dinheiro do Fundo Partidário — cerca de 2,5 bilhões divididos entre os 35 partidos — e as contribuições de pessoas físicas poderão ser utilizadas nas campanhas. No seio desse novo cenário, que acompanha a crescente importância da Internet enquanto local de disputa de poder, a eclosão das fake news tornou-se um meio de autopromoção e difamação.

A veiculação de notícias falsas na Internet tem contribuído para o deslocamento do debate político ao âmbito da não-política. A propagação de informações mentirosas, além de estabelecer fundamentos falsos que influem diretamente na tomada de decisões para o país, surge usualmente vinculada à difamação de figuras públicas, que culmina na incitação de ódio. Nesse sentido, o jogo democrático é comprometido na sua totalidade: não se discute programas de governo, propostas ou os inúmeros problemas da realidade social brasileira no nível da razão. Ao invés disso, intensifica-se a polarização política e a demagogia.

O candidato à presidência Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão (PSC), é um dos maiores oportunistas desse fenômeno. Recusando-se a participar das sabatinas promovidas pela UOL, Folha e SBT, o líder em diversas pesquisas publicadas até agora possui uma soma que ultrapassa os 5 milhões de seguidores no Facebook, é um dos candidatos mais influentes nas redes sociais e promove-se não apenas por meio de notícias falsas, mas também pelo uso de memes. Outros grupos de extrema-direita como MBL (Movimento Brasil Livre), disfarçados com os trajes do discurso anticorrupção, são famosos pela divulgação das fake news..

Em contrapartida, agências de jornalismo investigativo iniciaram movimentos de checagem dos fatos para a exposição das informações falsas e desmoralização dos grupos que contribuem para sua divulgação. O “fact checking” é uma forma de conferir os fatos através dados, pesquisas e registros verídicos. Projetos como a Checagem Truco, desenvolvido pelas jornalistas da Agência Pública, são exemplos dos trabalhos que já estão em atividade no Brasil.

O Truco já revelou fakes news provindas de diversos candidatos políticos e confrontou o próprio MBL a respeito de um vídeo compartilhado em sua página oficial no Facebook, no qual são citados diversos dados falsos sobre a sistema carcerário brasileiro. Em repúdio à checagem feita pela agência, o grupo respondeu com uma foto de um pênis de borracha com um capacete no qual está escrito “imprensa”, acompanhada pela legenda “check this!” (“cheque isso!”). Além disso, classificaram esse tipo de iniciativa como “censura” feita pela mídia de esquerda.

O presidente do Supremo Tribunal Superior Eleitoral, Luiz Fux, reconheceu a ameaça que as fake news representam à democracia: Estamos chegando às eleições, com voto livre, inclusive da desinformação. As fake news poluem o ambiente democrático, com o candidato revelando sua ira contra o outro, em vez de suas próprias qualidades”. Segundo ele, há inclusive a “possibilidade de anulação do pleito, se o resultado das eleições forem fruto dessas notícias falsas”.

Diante do atual momento político, nunca foi mais necessário recorrer à checagem de fatos. É preciso se manter alerta e investigar as notícias que surgem nas timelines antes de compartilhá-las ou, ainda, utilizá-las para a construção de um posicionamento.

Referencial

<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/31/MBL-do-discurso-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-proximidade-com-as-fake-news>
Acesso: 20/06/2018 às 17h34.

<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/03/31/MBL-do-discurso-anticorrup%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-proximidade-com-as-fake-news> Acesso: 20/06/2018 às 17h40.

<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/09/politica/1518209427_170599.html>
Acesso: 20/06/2018 às 18:00.

<https://apublica.org/checagem/>
Acesso: 20/06/2018 às 18:20.

<https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/fux-diz-que-e-preciso-mais-imprensa-e-mais-jornalismo-para-combater-noticias-falsas.ghtml>
Acesso: 20/06/2018 às 18:40.

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