Fox Sports Rádio: o preço do engajamento

Demissões em série de ex-comentaristas do programa esportivo trazem à tona o embate entre jornalismo e entretenimento

Pedro Henrique Ferreira de França
singular&plural
3 min readOct 6, 2022

--

Por Gabriel Carille e Pedro França

Jornalistas fotografando jogador com pé sobre a bola. Fonte: Tomwang112/iStock

Do dia 1º de Outubro de 2012 a 8 de Janeiro de 2021, o mercado esportivo brasileiro exibiu na Fox Sports um dos seus programas com maior audiência no horário do almoço, que batia de frente com a audiência de programas das emissoras da Band, Globo e Sportv. O “Fox Sports Rádio” era um programa de debate marcado por suas confusões e momentos acalorados recheados de, aspas, polêmicas, que por muitas vezes excediam as quatro linhas.

O programa se encerrou após a fusão da emissora com a ESPN pelo grupo Disney, a fim de baixar seus gastos com salários. Saíram três dos seis principais nomes do programa: Benjamin Back, “Mano” e Flávio Gomes, restando somente Fábio Sormani, Felipe Facincani e Oswaldo Pascoal. Porém, durante o mês de setembro deste ano, Facincani e Sormani foram demitidos por problemas nos bastidores. Facincani foi demitido por problemas na redação que não foram revelados ao público, enquanto Sormani foi demitido após ser denunciado por fazer piadas de cunho homofóbico em rodas de conversa com colegas da emissora. Com esses recentes acontecimentos, o debate sobre a ética jornalística do extinto programa voltou à tona. A questão que fica é até onde esses nomes eram personagens que buscavam audiência em seus programas, ou, se realmente são pessoas de caráter duvidoso.

O programa Fox Sports Rádio foi um programa que se propunha a ser esportivo e entretivo e, com isso, era nítida a exploração das polêmicas, sempre buscando apresentar personagens que defendem lados diferentes de uma mesma pauta. Mas até que ponto a criação desses personagens é positiva perante a qualidade jornalística do programa? Esse formato de mesa-redonda é bastante antigo no jornalismo esportivo, porém essa característica de entretenimento se iniciou após Tiago Leifert revolucionar o “Globo Esporte”, e desde então se debatem até que ponto programas como “Donos da Bola”, “Jogo Aberto” e o próprio Fox Sports Rádio ainda podem ser considerados como programas jornalísticos. Um dos princípios do jornalismo é a imparcialidade, algo extremamente polêmico e difícil de ser alcançado no meio esportivo; esse princípio era algo que, nitidamente, ao invés de ser almejado, era evitado no programa. A parcialidade se aplicava em questões não só esportivas; por muitas ocasiões os jornalistas Flávio Gomes e Sormani, os quais tinham posições políticas opostas, traziam questões sociais e políticas para pauta, onde ocorriam diversas discussões, às vezes até pessoais e de forma polarizada.

Um episódio que revoltou a maior parte dos espectadores foi quando Felipe Facincani, recém-demitido da ESPN, disse “Comer arroz com ovo? É melhor não comer mesmo. Meu cachorro come melhor que isso. Que nojo, não dou isso nem para minha cachorra” de forma “cômica”. É o mesmo jornalista que também já teve áudios vazados contendo conteúdos homofôbicos. Esse é um dos vários episódios que podem ser listados como um excesso de liberdade que essas pessoas possuíam em seus horários na televisão, e a pergunta que fica é: qual é o limite? Se é que tem limite. O limite citado em questão é o da busca por audiência a todo custo, a ponto de ao vivo serem gerados debates ilusórios, a ponto de conseguir ofender pessoas enquanto se está em busca do sucesso do seu programa e emissora. Esses comentaristas não tiveram o mínimo respeito sequer por todos ensinamentos éticos e valores jornalísticos que foram passados durante suas formações: verdade, imparcialidade, responsabilidade, isenção e muitos outros, todos esses sendo quebrados durante o andamento do programa.

--

--