Futebol feminino eleva pontos de audiência na TV aberta
Desenvolvimento da modalidade no Brasil demanda cobertura jornalística mais completa
Por Guilherme Alves, Pedro Braga e Rafael Hideki
Chegou ao fim mais uma edição do Campeonato Brasileiro Feminino de futebol. A edição que terminou domingo, 26 de setembro, foi a quinta consecutiva organizada pela Confederação Brasileira de Futebol e deu sequência à dinastia das atletas do Corinthians, atuais tricampeãs, que venceram o Palmeiras nos dois jogos da final.
O crescimento da modalidade é visível. São mais campeonatos no calendário estadual, nacional e continental, mais dinheiro com patrocínios exclusivos e jogos mais disputados. A estruturação e a maior exposição dos torneios femininos aumentam o interesse público. O segundo jogo da final marcou na Rede Bandeirantes de Televisão, em média, cinco pontos de audiência, mais que o dobro do mesmo dia na semana anterior, quando não passou de dois pontos nessa faixa.
Com isso, há um crescimento do valor-notícia em relação à modalidade e surge a necessidade de cobertura jornalística mais completa.
Nos dias seguintes aos jogos, os portais costumam explorar os desdobramentos de um fato que foi notícia anteriormente, o que é conhecido como “suíte” no jornalismo. As matérias relacionadas ao clássico entre Corinthians e Palmeiras no Brasileirão feminino, encontradas no Globo.com, UOL, e site do Estadão, se encaixam nessa categoria.
Apesar dos critérios de noticiabilidade colocarem o tema em alta, é destacado a falta de visibilidade que os sites deram para essas notícias. No Globo.com, até mesmo na seção de Esportes, o Globo Esporte, em menos de 12h após o término do jogo já não havia mais chamadas ou links visíveis que levassem às notícias da partida; o mesmo ocorreu com o site do Estadão. O único que cedeu um espaço para um acesso direto às matérias em sua homepage foi o portal UOL.
Com relação ao assunto, o UOL preferiu falar sobre a discrepância de premiação paga ao clube campeão do brasileirão feminino (290 mil reais) e masculino (33 milhões de reais). A sequência discursiva do texto busca evidenciar a desigualdade entre gêneros na modalidade no Brasil. “Hoje o Corinthians dirigido por Sylvinho [time masculino] ocupa a sexta colocação no Brasileirão (…). Caso essa seja a posição final da equipe ao final das 38 rodadas, o clube levaria para casa R$ 24,7 milhões”, ressalta.
A matéria aparece abaixo da home do UOL, como complemento a um texto de opinião que pede o aumento da premiação do Campeonato Brasileiro feminino. Os textos, no entanto, aparecem à direita de uma nota sobre o atrito entre o atacante brasileiro Neymar e Mbappe, no vestiário do Paris Saint Germain. Ou seja, tendo em vista que as pessoas no Brasil lêem da esquerda para a direita, a forma de organização das matérias no portal reforça o estereótipo de que o futebol masculino é mais importante que o feminino.
O Estadão tenta explicar os motivos que levaram o Corinthians ao bicampeonato no futebol feminino. O texto começa com um juízo de valor para exaltar a equipe. “Em uma campanha quase perfeita com 18 vitórias, dois empates e apenas uma derrota (…), o Corinthians conquistou o tri do Brasileiro Feminino”, informa o jornal. Na sequência, a matéria contextualiza a história do clube na modalidade, fala sobre a estrutura e diz que o time “passou a dominar de forma categórica o futebol brasileiro”, com oito títulos desde então. A matéria estava posicionada na parte inferior da página.
Já o globo.com projeta que a final disputada no domingo 26/9 pode ser “um divisor de águas” para a difusão da modalidade feminina no país, já que atraiu grande público. O autor defende que a presença de clubes com grandes torcidas nos jogos importantes pode ajudar no desenvolvimento. O texto, porém, estava posicionado abaixo de 4 matérias na aba de esportes, dentre elas os gols do campeonato alemão masculino e uma sobre e-sports em que atletas reclamavam do jogo de futebol Fifa 22.