Gênero e Sexualidade: identidade de gênero na mídia

Jornalismo abre espaço para falar de transgêneros

Moysés Alves
singular&plural
6 min readDec 18, 2018

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Por Moysés Alves

Tarso Brant, o famoso transgênero que participou da novela “A força do querer” Fonte: Extra-Globo

Resumo: O presente artigo tem como objetivo promover reflexões acerca da questão de gênero e sexualidade na sociedade e como o jornalismo praticado na TV aberta aborda o assunto para disseminação de informações relevantes e quebra de tabus. Pretendo discutir a participação do jornalismo e suas funções na quebra de estereótipos e preconceitos e do cumprimento dos seus objetivos na prestação de serviço a sociedade e na construção cultural. Desse modo, será abordado aqui uma análise de alguns veículos de mídia, além de uma breve explicação do conceito de gênero e suas principais características para sociologia e psicologia.

Em tempos modernos a questão da diversidade sexual, da identidade de gênero e da aceitação do outro pela orientação sexual, tem ganhado mais espaço para debates a medida que a mídia dá abrangência a este assunto pautando esses temas tão polêmicos, mais que ainda encaram um certo tabu por parte da sociedade e mesmo por uma parte da mídia quando se negam a aprofundarem na discussão por conservadorismo e por estar alicerçada em uma cultura acostumada com o conceito de gênero ligados às características biológicas, e pouco ao papel social de cada pessoa.

Mas como o jornalismo brasileiro e principalmente por meio da TV aberta abordam a questão de gênero? Para essa pergunta cabe uma análise dos principais veículos de comunicação que parecem ceder espaço para esse tema somente nas telenovelas e no entretenimento. Mas essa realidade está mudando, ainda que de forma paulatina. Esse artigo visa tratar basicamente da cobertura jornalística dada a identidade de gênero e sexualidade pelo jornalismo brasileiro.

De acordo com a ONG Transgender Europe (TGEu), o Brasil ocupa o topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras. Em oito anos, de 2008 a 2016, 868 trans e travesitis perderam suas vidas no país. Diante de dados que mostram o alto grau de intolerância contra pessoas trans e do público LGBT, a mídia precisa dar mais visibilidade e pautar o tema a fim de atender , dar vez e vós a essa parcela quase invisível da sociedade.

Apesar de ainda ter um caráter tímido, as reportagens sobre gênero, homossexualidade, transexualidade e sexualidade tem ganhado espaço na TV aberta. A Globo além de ter abordado nas suas telenovelas assuntos como homossexualidade e transexualidade, no jornalismo reportagens já deram ênfase a essas temáticas por meio de alguns programas de grande importância na sua grade de programação.

O programa Fantástico ganhou destaque ao apresentar um quadro chamado: “Quem Sou Eu?” , comandado pela jornalista Renata Ceribelli. Já no Profissão Repórter o programa liderado pelo jornalista Caco Barcellos exibiu em agosto de 2018: Transgêneros: os passos para a aceitação e a transição de crianças e adultos — Onde mostrou algumas dificuldades e conquistas de pessoas transgênero em alguns pontos pelo Brasil e no Estados Unidos.

Fonte: Reprodução

Outra série de reportagens sobre trangêneros foi exibida em uma filiada da Globo, na TV Bahia, no jornal Bahia Meio Dia, onde a jornalista Wanda Chase abordou os desafios enfrentados por transgêneros na sociedade atual. A série é composta por quatro vídeos. Ambos os programas exibidos na Globo deram um bom aprofundamento no tema por meio de reportagens bem humanizadas e com ótimos enquadramentos. É o jornalismo prestando seu papel, levando informação útil a população para quebra de tabus, preconceitos estereótipos e estimulando o senso crítico. Esse é o modus operandi da prática jornalística que a sociedade espera.

A TV Cultura também tem cedido grande espaço na sua linha jornalística para falar sobre gênero, transgênero e sexualidade, nos seus diversos programas que abordam assuntos polêmicos e de interesse da população.

No entanto, algumas emissoras como a Record, SBT e Band pouco abordam esses temas nas suas coberturas jornalísticas. Muitos veículos ainda seguem uma linha editorial pautada para um público conservador, que estão acostumados assistir no horário considerado “nobre” reportagens de cunho majoritariamente, político, econômico e pouco social e humanizado.Ou mesmo optam por apresentar programas sensacionalistas e policialescos, visando somente ibope.

No Jornalismo Impresso e online, também tem surgido matérias sobre as dificuldades de aceitação e falta de inclusão de transgênero no mercado de trabalho, como mostra em uma matéria publicada pelo Estadão: Transgênero, transexual, travesti: os desafios para a inclusão do grupo no mercado de trabalho. O texto aborda de forma bem aprofundada como o mercado de trabalho reage as novas questões sociais de identidade. A matéria cita que a prostituição ainda é meio pelo qual muitas pessoas desse grupo recorrem como alternativas por não terem oportunidades no mercado de trabalho.

O Correio Brasiliense (CB) publicou uma página especial com uma série de reportagens sobre essa temática: Transexuais no Brasil: uma luta por identidade. São reportagens que mostram a intolerância que ainda é grande no Brasil contra essa parcela da população que são constantemente desafiadas pelo preconceito.

Cabe ainda ressaltar, que as dificuldades de pessoas trangêneros aparecem mesmo na sociedade por falta de oportunidades no mercado de trabalho para área do jornalismo, Lisa Gomes que ocupa a posição de destaque no mercado de trabalho, é a primeira repórter transgênero da TV brasileira, mas teve as portas de várias emissoras fechadas até chegar à RedeTV. Essas disparidades ocorrem em diversas partes do mundo.

Lisa Gomes, a única repórter transexual da TV brasileira

As coberturas jornalísticas sobre a questão de gênero e sexualidade apesar de se mostrarem tímidas, elas já ocorrem e conceituam bem essa temática no contexto atual em que vivemos. Onde a intolerância é grande, na sociedade, nas redes sociais com diversos haters e transfóbicos que propagam discursos preparados e de ódio propagando o racismo, preconceitos e estereótipos.

No entanto, esses fenômenos levantam mais ainda a importância de discutir esses assuntos, uma vez que, merecem mais ainda serem debatidos e deixarem de ser tabu. Porque as diferenças e a diversidade estão intimamente ligadas com a cultura e a sociedade como um todo.

Portanto, é papel do jornalismo pautar assuntos de interesse da população, levar informação clara e precisa e esclarecer também assuntos considerados tabus. É preciso que os meios de comunicação, principalmente a TV aberta levem a público com ética e valor as diferenças que merecem e devem ser respeitadas.

Gênero: conceito e significados

A compreensão do conceito de gênero nos possibilita identificar os valores atribuídos a homens e mulheres, bem como as regras de comportamento e papel na sociedade decorrentes desses valores.

Vivemos uma era na qual o significado de gênero ganhou novas nuances a partir do ponto de vista das ciências sociais e da psicologia porque trata-se de um papel social e não somente biológico. Significa dizer que, de acordo com a definição “tradicional” de gênero, este pode ser usado como sinônimo de “sexo”, referindo-se ao que é próprio do sexo masculino, assim como do sexo feminino.

Por sua vez, nas Ciências Sociais, o gênero é entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres. Assim esse papel social, poderia ser construído e desconstruído, ou seja, pode ser entendido como algo mutável e não limitado.

Portanto, Identidade de gênero consiste no modo como determinado indivíduo se identifica e se enxerga na sociedade. Trata-se de uma questão social e cultural, e não biológica, uma vez que, o papel social do gênero e o sentimento individual da pessoa (identificação do indivíduo com determinado gênero: masculino, feminino ou ambos), determinam essa identidade.

Significar dizer que uma pessoa que biologicamente nasceu com o sexo masculino, mas que se identifica com o papel social do gênero feminino, passa a ser socialmente reconhecida como uma mulher. Esta pessoa é denominada transgênera, pois possui uma identidade de gênero diferente da biológica. Na explicação estereotipada é de uma mulher presa em um corpo masculino, ou vice-versa. Embora muitos pertencentes as comunidades transexuais descordem disso

Relacionar a identidade de gênero com a orientação sexual é errado, porque existem pessoas transexuais que podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, assim como acontece com as pessoas cisgênero.

Referências

DIAS- Tatiana -Gênero não é ‘ideologia’. É identidade –Disponível em> https://www.nexojornal.com.br/explicado/2015/11/05/G%C3%AAnero-n%C3%A3o-%C3%A9-%E2%80%98ideologia%E2%80%99.-%C3%89-identidade. Acessado em: 17/12/18.

UEDES, Mª Eunice. Gênero o que é isso?. Brasília: Scielo, 1995\\ Disponível em> http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931995000100002. Acessado em 17/12/18.

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Moysés Alves
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Estudante de Jornalismo apaixonado por livros de ficção, por cinema e pela arte. Escreve para o : Singula&Plural https://medium.com/singular-plural