Guerra na Ucrânia, guerra pela verdade

Como o conflito evidencia a luta pelo controle da narrativa popular vigente

Luan Ferreira
singular&plural
2 min readApr 3, 2022

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Por Ana Borges, Luan Ferreira e Maria Fernanda Gimenes

Desde o dia 24 de fevereiro deste ano, o mundo está atento aos movimentos da guerra entre Rússia e Ucrânia, tanto para entender melhor o conflito quanto para tentar mitigar o dano das suas consequências geopolíticas. Temos informações sobre as evacuações de civis, quantidade de mortos e sobre as mais recentes falas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Porém, uma das coisas que mais chama a atenção nesse conflito é a quantidade de veículos de notícia que usam, praticamente, as mesmas palavras para a mesma notícia. Devido a necessidade de manter o público informado de maneira rápida e consistente, esses jornais optam por escolher agências de notícias estabelecidas como principal maneira de manter o fluxo de informação dos seus canais.

A prática, criada com base no comodismo, levanta alguns problemas que afetam a dinâmica em que não só a geopolítica global funciona, mas também a do imaginário popular, que acaba por se tornar uma verdade disfarçada.

Photo by Egor Lyfar on Unsplash

Começando as explicações pelo primeiro ponto citado, é evidente que o conflito Rússia x Ucrânia só está tendo esse tipo de atenção devido ao impacto que a guerra traz no consumo e distribuição de produtos russos, em específico o petróleo. Com o interesse principal em jogo, a exposição traz à tona novos interesses que aprofundam ainda mais esse sentimento de solidariedade seletiva: a questão de o país atacado ser europeu, com pessoas majoritariamente brancas, loiras e “civilizadas”.

Isso nos leva ao segundo problema desse modelo de noticiar, a seletividade e prioridade dos assuntos. Quando um fato é visto de um único ponto de vista e tido como verdade, é capaz de se controlar o que se é importante de dizer e o que não é, exatamente como no mito da caverna (Platão). Logo, como exemplo, as guerras em países como Síria e Sri Lanka são botadas de escanteio, pois não são de interesse daqueles que controlam a narrativa vigente. É preciso destacar que, em período de pós-verdade, é necessário tomar cuidado com esse comodismo de receber, apurar e aceitar informações, de modo a evitar a manutenção do discurso unilateral de grandes agências de notícias.

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