Homofobia: o preconceito no esporte e a luta por uma verdade que não pode ser escondida

Durante muito tempo, atletas brasileiros esconderam a sua orientação sexual por conta do preconceito, mas a luta contra a homofobia continua

Camila
singular&plural
4 min readMay 18, 2022

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Por Camila Depane, Giovanna Gravina e Júlia Lara

Crédito: Sharon McCutcheon / Pexels

Neste Dia Mundial Contra a Homofobia, 17 de maio, o esporte brasileiro segue sua luta contra o preconceito, em meio a adversidades e à intolerância constante.

Nesse sentido, aqueles atletas que se assumem homossexuais ainda encaram perseguições dentro e fora dos estádios e locais de treinamento, por não seguirem os padrões heteronormativos. E, nesse meio, existem muitos, dos quais lutadores de UFC, jogadores de futebol, de vôlei, entre outros esportes, ainda lutam contra a ignorância, a violência e o preconceito que define a homofobia.

E foi apenas há 32 anos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID). Esse passo foi importantíssimo para que houvesse o avanço da sociedade em quebrar a ideia de internações e tratamentos compulsórios, que consideravam essas pessoas doentes.

Diante desse enfrentamento, outro passo importante foi em 2019, quando a homofobia passou a ser considerada crime, quando o Supremo Tribunal Federal permitiu que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais fossem enquadrados no crime de racismo.

Ao longo desse tempo, a mídia vem retratando diversos casos de homofobia no esporte brasileiro, além da comunidade LGBTQIA+ também se manifestar contra pessoas que atacam atletas por sua orientação sexual, como o caso emblemático da goleira de handebol, campeã mundial, Mayssa Pessoa. Ao se assumir bissexual durante as Olimpíadas de Londres, em 2012, ela viu que o assunto repercutiu muito mais na imprensa do que a sua performance nos Jogos Olímpicos.

No ano passado, em setembro de 2021, Douglas Souza, jogador de vôlei pela Seleção Brasileira, também foi vítima de homofobia em um aeroporto da Europa, em escala a caminho da Itália. Nas redes sociais, ele revelou que era um dos piores dias de sua vida. Nesse sentido, vale ressaltar que o atleta foi o primeiro jogador a se declarar homossexual em 2018, e foi destaque nas Olimpíadas de Tóquio.

Outro caso que repercutiu, recentemente, no programa Fantástico, da Rede Globo, foi o de Washington Duarte Sousa, lutador de MMA amapaense e o primeiro dentre os atletas da modalidade a se assumir gay. Um marco que não deveria, mas que é histórico em um esporte no qual a virilidade, a ideia de força, luta, sucesso e capacidade estão atreladas ao homem cisgênero heterossexual. Tudo isso, fruto de uma sociedade extremamente machista, desigual e homofóbica, ainda mais quando se trata de ambientes esportivos predominantemente dominados por homens cisgêneros heterossexuais, como o futebol e o MMA.

Crédito: Reprodução / Pixabay

Segundo matéria de abril deste ano, do portal O Liberal, o lutador de MMA foi vítima de homofobia por um rapaz da cidade vizinha: “ele falou para o meu professor de jiu-jítsu que, se ele perdesse para mim, ele iria embora da cidade. Eu ganhei a luta no primeiro round, nocauteei o menino e ele saiu da cidade”, conta Washington, que decidiu se assumir homossexual para que mais atletas do meio criem coragem e digam ao mundo quem são, já que não é a orientação sexual que determina onde ou o que eles podem ou não fazer.

Como atores envolvidos na construção social da realidade, ainda mais como jornalistas, é responsabilidade crucial e mais do que necessária que os jornalistas sejam engajados em todas as causas da comunidade LGBTQIA+ e que, de alguma forma, sejam divulgadores e compartilhem as histórias de preconceito e intolerância sexual, além de tudo o que a comunidade tem a falar.

De acordo com o relatório do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+, no ano passado, 316 mortes foram registradas no Brasil, contra 237 em 2020, dando ao Brasil o título de país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. Por essa razão e mais, é obrigação do jornalista agir em prol da mudança dessa máxima. A realidade está longe da perfeição, a sociedade não deveria precisar ler e ouvir tantas vezes o óbvio, mas a homofobia, transfobia, bifobia e tantos outros tipos de violência ainda são predominantes no Brasil.

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