Hora de renovar… o jornalista

Guilherme Perez Diefenthaler
singular&plural
Published in
4 min readMar 25, 2018

Do cinema ao futebol, jornalistas ainda têm pensamentos que não condizem com o que se vê nas pessoas nos dias de hoje

Por Felipe Kobayashi e Guilherme Perez

É hora de renovar o mundo da comunicação e do jornalismo. Não apenas a questão de pautas, assuntos, métodos de transmissão, palavras e textos. É preciso, também, renovar o jornalista.

Nos dias de hoje, ainda é possível ver, em diversas áreas da comunicação, a existência do racismo, da homofobia, da não aceitação de pensamentos novos. O mundo é feito de seres humanos completamente diferentes, sendo altos e baixos, bonitos e feios, brancos e negros, cis e trans, heterossexuais e homossexuais e o jornalista precisa entender isso. Não só entender isso, mas reforçar em seus textos e falas do cotidiano.

O crítico de cinema da TNT no Oscar, Rubens Edwald Filho, consagrado durante toda sua carreira pelo conhecimento e paixão pela sétima arte, errou e seguiu insistindo na transmissão da maior premiação de cinema desse ano, quando chamou a atriz principal (Daniela Vega) do vencedor de filme estrangeiro (Uma mulher Fantástica) de “rapaz”, pelo fato de ela ser transgênero. Nasceu homem e operou para ser o que queria e o que sentia, isto é, uma mulher.

Equipe de "Mulher Fantástica", que tem uma trans como atriz principal (MARK RALSTON/AFP/Getty Images)

Isso reforça a tese de que muito jornalista ainda pensa da forma errada, com ideias retrógradas. Jornalismo se trata de informar milhões de pessoas e passar o que é certo, e, infelizmente, esse tipo de comentário não condiz com a realidade que o “novo jornalista” precisa passar.

Ainda nesse assunto, os jornalistas, se assim se podem chamar, do programa “Pânico”, que passa na rádio JovemPan, também comentaram do assunto quando os atores Raul Chequer e Leandro Franco, do programa de YouTube “Choque de Cultura” estavam presentes. Os donos do programa, Emílio Surita e Márvio Lúcio (Carioca), chamaram a atriz de “travesti”, “traveco” e “travequinho”. Constantemente eles defenderam a tese que esse pensamento não é errado, apenas tem duas versões, a versão de quem defender o pensamento do “travesti” e a de que a atriz é trans.

Leandro Ramos e Raul Chequer durante o programa Pânico, na JovemPan (Reprodução/JovemPan/Pânico no Rádio)

Raul e Leandro respondiam, defendendo a segunda versão. Alegaram que humor e brincadeiras, quando se é tratado com preconceito, é desnecessário e sem graça. Outra vez que o jornalismo perdeu onde não deveria. Os participantes do programa do “Pânico” tem conhecimento e vivência para saber reconhecer os pensamentos e ideologias dos dias de hoje. Uma pena que não se renovam.

Não só no cinema é assim. No mundo esportivo, por exemplo, a homofobia ainda é algo comum. Inclusive, enquanto é escrito esse artigo, pode-se ouvir na televisão os gritos de “bicha” para o goleiro do Corinthians. O que o narrador e o comentarista fazem? Isso mesmo…Nada. Esse tipo de atitude, aliada à falta de punição dos tribunais esportivos diante dos clubes, fomentam a cabeça e o pensamento homofóbico dos torcedores de futebol. Não só nas transmissões, mas em programas esportivos também. Constantemente, pode-se encontrar programas, principalmente na TV fechada, como o programa “Fox Sports Rádio”, na Fox Sports e “+90”, no Esporte Interativo, em que os comentaristas da mesa são machistas e homofóbicos. Claro que não com palavras diretas, mas com piadas e palavras que remetem e sugerem o pensamento retrógrado dos jornalistas.

Outra história que chamou muita atenção nos dias recentes, foi a movimentação feminina na mídia, que por diversas vezes jornalistas mulheres sofrem com assédios, e a gota d’agua foi o caso de Bruna Dealtry, que ao exercer seu trabalho, foi roubado um beijo dela, por um torcedor do Vasco da Gama, com isso, neste domingo, 25, foi lançada a campanha #DeixaElaTrabalhar, que reivindica a prática de seu trabalho sem passar por esse tipo de situação.

Jornalistas fazem campanha para acabar com o machismo no mundo do futebol (Reprodução/Twitter/@Deixaelatrab)

Deve-se tomar nota disso, pois é um problema enraizado na sociedade e na mídia, já que por diversas vezes o que é tratado pelo publico masculino como brincadeira, na verdade é ofensivo e eu machista, fato que nunca deveria acontecer em qualquer lugar e principalmente na própria mídia, que é discrepante o número de jornalistas mulheres em redações comprado com os homens. Então é preciso ter uma igualdade de gênero, afinal, é o necessário e o ideal.

Assim, fica claro que é preciso renovar, também, o jornalista. Ele é o transmissor do que se vê e se pensa em todo mundo, todos os dias, com o passar do tempo. Se continuarmos com jornalistas que defendem as ideologias de séculos passados, teremos pessoas e espectadores que defendem ideias do século passado. Não andaremos, não desenvolveremos e não melhoraremos o jornalismo. Apenas criaremos seres alienados e parados no tempo.

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