Hostilidade em tempos de escassez

O filme “O Poço” utiliza diferentes tipos de discursos para mostrar os limites da humanidade

Isabela Matos
singular&plural
2 min readSep 28, 2022

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Reprodução de cena do filme "O Poço"

Por Isabela Matos e Esdras Matias

No ano de 2020 começou a pandemia do novo coronavírus no Brasil, e com tantas mortes e internações veio o desespero da população. Foi instaurado o medo de faltar alimentos e produtos de higiene em casa e o povo foi ao mercado comprar os produtos para deixar de estoque em seus domicílios, mas faltou empatia em várias pessoas, que foram levando sem necessidade e sem pensar nas outras que ficariam sem nada.

O filme “O Poço” mostra exatamente o que aconteceu no auge da pandemia, desespero e medo do imprevisível. No longa, as pessoas ficavam em andares aleatórios de um edifício e mudavam conforme o tempo passava. Como eles não sabiam se acordariam em um andar inferior no outro dia, não respeitavam a comida e comiam tudo sem necessidade. A maioria das pessoas do local pensavam assim e os andares mais baixos ficavam cada vez mais sem comida, sendo que, se as pessoas de cima comessem só o necessário para não ficar com fome, isso não aconteceria.

É uma representação do ser humano da forma mais selvagem possível, contrário à “civilidade” em que o homem moderno costuma ser representado no cinema. Mesmo em um momento de extrema vulnerabilidade do ser humano, nesse caso de escassez de alimentos, o que impera é o egoísmo e não a empatia e o senso coletivo.

Em uma das cenas, um dos personagens tenta se comunicar com a pessoa que está no andar de baixo e é dita a frase “não tente se comunicar com quem está no andar abaixo, porque ela está abaixo’’, ressaltando justamente a individualidade humana em tempos de crise.

No filme, é utilizada a iconografia, as imagens têm vários símbolos e significados, sem levar em conta o valor estético. É polifônico por ter muitos locutores e cada personagem tem um ponto de vista diferente sobre o local em que estão. A teoria da Gestalt mostra que tudo pode ter duas ou mais versões, vários significantes, e é preciso entender o todo primeiro, para depois compreender as partes. Assim é “O Poço”, um filme polissêmico, com muitos significados, em que é preciso olhar o todo para entender as partes.

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