Impeachment: qual o papel da mídia no cenário político brasileiro?

Meios de comunicação ampliaram polarização e rivalidade durante o processo

Jullia Guedes
singular&plural
2 min readMar 24, 2018

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Por Jullia Guedes e Ana Beatriz Bartolo

O processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff reacendeu as discussões sobre o papel do jornalismo na sociedade e a ética praticada pelos meios de comunicação. Os princípios da objetividade e imparcialidade se fizeram necessários para abrir espaço para um diálogo baseado em informações plurais.

De acordo com Moretzsohn (2001, p. 6), a fundamentação do jornalismo “remete ao sentido público e à ‘responsabilidade social’ da atividade, […] e considera possível preservar a prática jornalística dos vínculos econômicos e políticos estabelecidos pela empresa”. Então, é de se esperar que a cobertura do processo de Dilma tenha se mantido imparcial, visando esclarecer a questão para o público, oferecendo conteúdos de qualidade para ajudar na formação de opinião pública, sem se deixar levar por interesses particulares.

Falando sobre a grande mídia, a dependência econômica através das publicidades e a forte influência política que os meios de comunicação e seus dirigentes possuem, criam um dilema ético entre manter-se fiel ao serviço público prestado pelo jornalismo e manter-se sólido como empresa. A oposição entre as duas questões faz com que a abordagem de assuntos como o impeachment se torne delicada, já que é difícil prever se o que prevalecerá durante a produção será a objetividade ou o dinheiro.

Indo mais além, diante de um cenário imerso no mundo digital e com a crescente participação das redes sociais como palco para discussões de cunho político, era de se esperar que os novos meios ganhassem força durante o processo. Eles abrem espaço para uma arena pública, eliminando qualquer possibilidade de uma comunicação unidirecional e centralizada.

Por outro lado, não se pode ignorar que as redes sociais são construídas com fins de entretenimento e não jornalísticos. Assim, os algoritmos das plataformas, junto com o acesso às publicações de pessoas conhecidas e com pensamentos similares, faz surgir uma bolha social, em que as opiniões pessoais são reforçadas sem espaço para o contra-argumento.

Caberia ao jornalismo ingressar nessas bolhas com um conteúdo sólido e bem articulado para elucidar a complexidade envolvida no impeachment e enriquecer as discussões públicas. Porém, isso não aconteceu de forma efetiva, uma vez que a polarização e rivalidade entre os posicionamentos apenas aumentou durante o processo.

Sem o acesso à informações diversificadas, o público reforçou suas posturas com base em argumentos rasos e similares aos seus. Já que os meios de comunicação, em sua maioria, transmitiam mensagens aliadas aos seus ideais políticos e editoriais e não mensagens completas.

Na ausência de um contraponto confiável, o espectador/receptor tomava como seu pontos de vistas divulgados pela grande mídia e questionava a credibilidade de outros meios de comunicação que fizesse oposição àquela ideia. Assim, era fácil se assegurar de que suas convicções eram corretas e verdadeiras.

Referências

MORETZSOHN, Sylvia. “Profissionalismo” e “objetividade”: o jornalismo na contramão da política. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em <http://www.bocc.ubi.pt/pag/moretzsohn-sylvia-profissionalismo-jornalismo.pdf> Acesso em: 18 de março de 2018.

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