Jornalismo e a representatividade preta dentro das redações
O desafio da visibilidade negra — sendo apenas 23% dos jornalistas
Por Daniel Saltes
Na semana em que é comemorado o dia da Consciência Negra, 20 de novembro, tivemos diversos eventos relacionados ao racismo e junto deles uma realidade da nossa sociedade foi evidenciada, a de que muitos jornalistas falam sobre o assunto sem ter o devido lugar de fala.
Outro fator que ficou explicito é a falta de representatividade dentro do jornalismo, quando na maioria dos editoriais de mais visibilidade quem escreve sobre o tema são jornalistas brancos.
Em um jogo da semifinal da Libertadores Feminina, a jogadora do Timão, Adriana, sofreu insultos racistas durante o jogo. Porém nas mesas redondas de debate dos grandes veículos de comunicação vimos uma realidade de um Brasil elitista, a pouca representatividade de negros nesses debates. Os grandes veículos de informação ainda têm uma forma estereotipada dentro de suas redações, o que dificulta a entrada de negros em seus espaços.
Se pegarmos o estudo do Perfil do Jornalista Brasileiro, os negros representam 55,8% da população, mas eles são apenas 23% no jornalismo. Dessa maneira, as instituições de mídia corroboram para a manutenção de estruturas opressivas como o racismo. Essa tendência somente reforça um problema que é em grande parte estrutural da nossa cultura.
Apesar dessa desigualdade de oportunidade e reconhecimento, temos alguns sinais que são uma luz no fim do túnel, como a iniciativa do canal ESPN que, em seu programa de maior audiência, Linha de Passe, fez uma edição especial em que a bancada foi formada integralmente por representantes negros da emissora. No total foram três em uma mesa normalmente ocupada por cinco pessoas.
Ainda é pouco, levando em conta que mais da metade da população brasileira é negra, mas é uma luz de esperança de que a representatividade não será somente em datas especificas, que exceção pode se tornar normalidade.
“Ser negro no Brasil é, pois, com frequência ser objeto de um olhar enviesado. A chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado lá em baixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta”, disse o geógrafo Milton Santos em seu artigo Ser Negro no Brasil hoje. Ser negro é ter que quebrar paradigmas todos os dias, ser negro no Brasil, em que menos de um quarto dos jornalistas é preto, é contrariar estatísticas, ir contra tudo e contra todos.
É sonhar com um Brasil igualitário e com lugar de fala para quem tem propriedade em discutir o assunto, não somente com aqueles que não sabem o que é sentir na pele, ser desprezado por ser de uma cor diferente. Lutamos por um Brasil justo e igual.