Jornalismo e a representatividade preta dentro das redações

O desafio da visibilidade negra — sendo apenas 23% dos jornalistas

Danielsaltes
singular&plural
2 min readDec 2, 2021

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Por Daniel Saltes

Na semana em que é comemorado o dia da Consciência Negra, 20 de novembro, tivemos diversos eventos relacionados ao racismo e junto deles uma realidade da nossa sociedade foi evidenciada, a de que muitos jornalistas falam sobre o assunto sem ter o devido lugar de fala.

Outro fator que ficou explicito é a falta de representatividade dentro do jornalismo, quando na maioria dos editoriais de mais visibilidade quem escreve sobre o tema são jornalistas brancos.

Em um jogo da semifinal da Libertadores Feminina, a jogadora do Timão, Adriana, sofreu insultos racistas durante o jogo. Porém nas mesas redondas de debate dos grandes veículos de comunicação vimos uma realidade de um Brasil elitista, a pouca representatividade de negros nesses debates. Os grandes veículos de informação ainda têm uma forma estereotipada dentro de suas redações, o que dificulta a entrada de negros em seus espaços.

Se pegarmos o estudo do Perfil do Jornalista Brasileiro, os negros representam 55,8% da população, mas eles são apenas 23% no jornalismo. Dessa maneira, as instituições de mídia corroboram para a manutenção de estruturas opressivas como o racismo. Essa tendência somente reforça um problema que é em grande parte estrutural da nossa cultura.

Apesar dessa desigualdade de oportunidade e reconhecimento, temos alguns sinais que são uma luz no fim do túnel, como a iniciativa do canal ESPN que, em seu programa de maior audiência, Linha de Passe, fez uma edição especial em que a bancada foi formada integralmente por representantes negros da emissora. No total foram três em uma mesa normalmente ocupada por cinco pessoas.

Mesa Redonda da edição especial do Linha de Passe (Reprodução: Twitter/Élton Serra)

Ainda é pouco, levando em conta que mais da metade da população brasileira é negra, mas é uma luz de esperança de que a representatividade não será somente em datas especificas, que exceção pode se tornar normalidade.

“Ser negro no Brasil é, pois, com frequência ser objeto de um olhar enviesado. A chamada boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado lá em baixo, para os negros e assim tranquilamente se comporta”, disse o geógrafo Milton Santos em seu artigo Ser Negro no Brasil hoje. Ser negro é ter que quebrar paradigmas todos os dias, ser negro no Brasil, em que menos de um quarto dos jornalistas é preto, é contrariar estatísticas, ir contra tudo e contra todos.

É sonhar com um Brasil igualitário e com lugar de fala para quem tem propriedade em discutir o assunto, não somente com aqueles que não sabem o que é sentir na pele, ser desprezado por ser de uma cor diferente. Lutamos por um Brasil justo e igual.

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