Jornalista da Folha descreve 7 de setembro como ameaça bolsonarista

Renata Galf coletou opiniões de cientistas políticos a respeito da possibilidade dos atos pró-Bolsonaro representarem uma ruptura política

Alvaro guilhermino
singular&plural
3 min readOct 9, 2021

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Por Álvaro Guilhermino, Igor Lima e Layane Queiroz

Autoria: Matheus Câmara da Silva, retirada do banco de imagens Unsplash

A matéria publicada no site da Folha de S.Paulo no dia 22 de setembro de 2021 traz o título “O que foi o 7 de Setembro bolsonarista? Cientistas políticos apontam intenções do ato e suas consequências”. A utilização da expressão “7 de Setembro bolsonarista” no título já reforça, antes mesmo do começo da notícia, um dos principais objetivos do conteúdo: analisar qual a importância do ato para os apoiadores do presidente.

Já nos primeiros parágrafos, a jornalista e autora da matéria, Renata Galf, tenta expor que os atos ocorridos na data foram premeditados e estimulados pelo presidente Jair Bolsonaro e foram colocados como uma possível ameaça à democracia, por meio de frases como: “o presidente Jair Bolsonaro não economizou em declarações que colocaram no espectro a ameaça de que ele tinha pretensão de tomar medidas radicais no feriado” e “Não houve ruptura, mas o risco continua no radar do país”. Além de citações do próprio presidente a respeito do tema e uma pesquisa realizada pelo Datafolha, que apresenta dados sobre a parcela da população que acredita que o presidente pode dar um golpe de estado.

Ao todo foram sete cientistas políticos entrevistados, cinco homens e duas mulheres. Todos possuem opiniões que convergem em algum ponto, o de que as manifestações foram de alguma forma uma demonstração de poder como tentativa de ameaça, e divergem apenas em relação às intenções por trás do ato. Argumentos que partem do mesmo local de fala e não expressam pluralidade. Magna Inácio, por exemplo, usou o termo “saída eleitoral” para expor sua opinião de que os atos tinham mais a ver com as eleições de 2022 do que com o golpe propriamente dito. Já Cristiano Rodrigues acredita se tratar realmente de uma tentativa de golpe, ou pelo menos, em suas palavras “verificar se as condições para esse rompimento existiam”. Não houve argumentos colocados em favor dos protestos.

Como conteúdo visual, a matéria utiliza diversas imagens e um vídeo de onze minutos, que mostra o discurso de Jair Bolsonaro na avenida Paulista durante o ocorrido. As fotos representam o presidente ao redor de apoiadores e, em uma determinada imagem, o presidente aparece fazendo uma “arma” com as mãos, gesto símbolo de sua campanha eleitoral nas eleições de 2018. Essa última imagem, em particular, reforça a mensagem de que existe uma ameaça imposta e sustenta uma visão violenta e armamentista, creditada a Bolsonaro.

O texto é finalizado com a foto de um apoiador que usa uma camisa com os dizeres “Armai-vos uns aos outros” e com a seguinte legenda: “Camisetas imprimem ‘estética opressora’ em protesto pró-Bolsonaro no 7 de Setembro de 2021”. O uso da palavra “opressora” na legenda pode ser vista como mais uma forma do discurso intensificar a visão de autoritário e antidemocrático sobre o atual presidente. A estrutura de elementos criada por Renata desde o início da matéria permite a interpretação de que existe um risco real contra a democracia e a possibilidade de uma ruptura política no país.

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